quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

DESLOC

 




Acho, não tenho de todo certeza, que ouvi e provavelmente da psicanalista e poeta Paula Vaz: “A Poesia é algo de “outro” lugar, não desse lugar.”.

Pois é.

Face à minha caminhada matinal os tratos deram-se às bolas e me coloquei a pensar sobre essa assertiva e perguntar-me de “lugar”.

Petulante que sou e perdulário em gastar minha reserva de idiotia me coloquei no lugar de “artista”, sempre lembrando de minha mãe que, ao me surrar, dizia aos gritos: “Larga de ser arteiro, menino.”

Ao artista, genuíno, resta a margem, nunca aquilo que está sob os ditames do Real, “esse” lugar. Ao artista o que vale é o verso livre, avesso aos contornos de qualquer natureza estruturante.

Mas o artista não goza de loucura, esta patologia. Poucos, sim, a bordejaram e escorregaram a ela, porque neles já residia algo dali.

Eu, “esse” artista, estou longe da loucura, porque tenho-a sob controle. Distancio-me do Real, para artear-me, mas me permito simbolizar a pedra no caminho drummoniana.

Ao Real cabem os livros, os modelos, as críticas, os prêmios, as trupes, as teorias literárias, as redondilhas, rimas, estas questiúnculas distantes, e como, do “outro” lugar.

A Palavra é torta e por demais vaga para dar conta. Ao vitimado pela arte há que deslocar-se e enlouquecer, por instantes, e drogar-se para a viagem poética.

Nunca é, às vezes, o que está escrito, sempre é Outra Coisa, quando genuína.

A Arte.

Por isto, as surras.

Há pouco, voltando pra casa, achei que deveria tirar foto deste poema. (Foto)

Fosse poeta, eu o escreveria.

Para que florescesse...