Minha mãe sempre teve um olhar especial para com ele. Certa vez ela comprou uma tela de setenta por oitenta centímetros e disse ao meu irmão, à época com dez anos de idade, que era para que ele pintasse um quadro para presenteá-la no Dia das Mães.
Esse meu irmão, sorrateira e ardilosamente, foi à surdina idealizando o quadro e depois de algumas pinceladas a cada dia o escondia de todos, inclusive de minha mãe. Em certo segundo domingo do mês de maio ele trancou-se em seu quarto e, em que pese as reprimendas de nossa mãe, batendo na porta e pedindo que ele abrisse, só saiu de lá quando tinha terminado sua obra.
Nosso quarto era contíguo à cozinha onde minha mãe ao cuidar dos afazeres culinários de cada dia cantarolava suas canções. Entre elas havia uma que meu irmão adorava: a letra dava conta de uma velha senhora que todas as tardes esperava sob a sombra de uma mangueira, rezando um terço, a volta de seu filho querido que havia partido para a guerra.
Domingo, logo após o almoço, recebi a notícia de que meu irmão perdeu a guerra para um câncer.
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