quarta-feira, 8 de novembro de 2023
BESTIAL
quinta-feira, 2 de novembro de 2023
VIVER
Amanheci vivo em mais um Dia
dos Mortos e me pergunto: o que faço deste dia além de uma reverência àqueles
que se foram levando neles a parcela original que em mim permanece?
Sim, eu sou ainda feito dos
meus mortos, que impregnaram marcas indeléveis, tatuadas em meu espírito e em
meu corpo. Eu sou o legado de tantos de quem absorvi e, além, sigo buscando
aquilo, que em mim, ainda quero vivo.
Estou animado? Retiro da
palavra o seu radical que grita: Ânima. Alma, energia.
O que está insepulto clamando para
que eu deixe ir? Mágoas, ressentimentos, decepções, amores frustrados, ainda que
eu próprio não admita: ódio.
E o que em medida maior, está
vivo em mim, que ainda me faz buscar o sol, a luz, o tempo?
Quais lutas, pelejas, proponho
ainda empreender? O que quero ainda fazer? A nova casinha dos netos? Editar
meus textos? Trocar aquela torneira, que insiste em vazar, uma água tão pouca?
Não deixar a vida fluir como
se não fizesse sentido e abrir mão daquilo que me deixaram para que eu perpetuasse.
Os jardins de minha mãe, as
obras brutas de meu pai, a candura de minha avó materna, o afeto infantil de
meu sogro, e tudo daqueles que ainda esperam de mim que a melhor parte deles
pro siga.
Eu tenho uma imensa
responsabilidade para com os meus mortos por estar vivo. Não quero abdicar
dela, esperando que aqueles que de mim descendem e daqueles que porventura
marquei, quando eu for, encontrem algum motivo para que a cada 02 de novembro
me reverenciem.
A Vida precisa seguir o seu
curso.