Eu tinha uns
quinze ou dezesseis anos, trabalhei como secretário de um representante de joias
fabricadas na Zona Franca de Manaus. Demorou um tempo para eu sacar porque ele
pedia para eu carregar a sua pesada maleta contendo os produtos.
Embarcado havia
peças contrabandeadas.
O escritório era numa
saleta. Minha mesa ficava à frente da dele. Certa vez um vendedor de jazigos
entrou e me ofereceu a coisa. Eu disse que era muito novo pra investir naquilo
e o sujeito pediu para falar com o “capo”.
Foi colocado pra
fora aos gritos: “Eu já falei com minha família que quando eu morrer quero ser
jogado no lixo. Ninguém vai gastar nada com isto!”
As escapadas na
rua não eram frequentes o que me permitia ficar no escritório, quase sempre
sozinho. Enquanto estive ali, alimentei o meu sonho: escrever.
Escrevia em profusão,
um monte. E acreditava que um dia poderia me tornar um escritor, destes de
livros publicados e que tais.
Hoje fiquei
sabendo pelo jornal que não há exatamente um salário pago pela Academia
Brasileira de Letras para seus membros. O que há são jetons, remuneração por
comparecimento às sessões da casa.
Para as reuniões
de quinta-feira, que incluem o famoso chá dos imortais, o valor é R$ 1.100.
Para as de terça, R$ 400. Era um pouco mais antes da pandemia.
Eles também ganham
plano de saúde, pagamento do funeral e uma vaga no mausoléu da Academia
Brasileira de Letras.
Caso eu chegue lá
posso abrir mão do pagamento do funeral.
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