quarta-feira, 8 de março de 2023

SINTOMA






A mulher não existe. A relação sexual, também não.
Lá em casa este vazio ocupa um lugar abissal, ainda que sintomático.
Em abril completam 54 anos que sintômano. Ela tinha ido à igreja, confessar. Eu a vi passar e delirei. Aquilo não existia. Meu corpo arrupiou-se todo. E tinha muito corpo em mim, aos dezessete.
Quando ela saiu da igreja e eu sintomei ao vê-la, saltei no oco.
E lá se vão 54 anos com esta falta.
No início, a gente chamava de “fazer gostoso”, e era bom. Depois, na medida em que a gente ia não sabendo pudemos de tudo, a dois.
Efeitos colaterais da trama relacional resultaram em três rebentos e de dois deles mais quatro e a gente, ainda goza.
Todo dia ela inventa. O desejo é infinito.
Adoro este vazio que em mim transborda.


 

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