quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

PÁTINA

 



Não só de cinema rolou o início do ano.

Janeiro e parte de fevereiro é ninja. A netaiada, os quatro, gruda como tornozeleira. Fico literalmente preso: “Vovô você prometeu.”, é a frase que mais ouço.

Quando os pais se mancam, sobra tempo para o que me dá um especial prazer: reparos na morada. De um tudo, com todo tipo de ferramenta. Onde não tem o que bulir eu invento e passo horas do dia tomado como possuído.

Derrubei dois coqueiros, um açaí, troquei bomba hidráulica, torneiras, pintura dos postes de luz de jardim (e olha que são 23), persianas, rede do gol do Veredão, e uma pá de outros trens.

Cera líquida incolor, óleo de peroba, corante líquido verde, está pronto o preparo para um dos serviços mais extenuantes: refazer toda a cobertura das janelas, portas e marcos da casa. Putz, não gosto nem de lembrar, foram dias e dias com uma buchinha destas de pia, panos para retirada de inevitáveis respingos no chão e um singelo pincelzinho de dois centímetros de largura. Quero ver daqui uns quinze, vinte anos, como será.

Ideia dela, fórmula dela, execução minha. E eu acho lindo. Acho que no planeta só tem uma morada com este tipo de ilusão. Todo o madeirame da casa, esquadrias, esteios, tudo foi montado ao longo da obra.

E verde pátina.

E eu acho lindo.

Bom mesmo é quando as pessoas que nos visitam nos levam impregnados em suas roupas, marcadas com resvalos nas portas ou marcos. Alguns resmungam. “Coisa mais tosca.”, eu já ouvi.

Passado o tempo o composto impregna na madeira e não deixa mais marcas.

Assim como janeiros. 


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