terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

(N)OVO

 



Ontem completei 71 anos de idade, 80% deles vinculado a organizações empresariais de diferentes portes, segmentos, nacionalidades e estruturas de capital.

Estive empregado durante vinte e cinco anos ocupando posições de Contínuo (1967) à Superintendente (1992). Há quase 31 anos estou como Consultor e Conselheiro, além de professor em escolas de negócios.

Em todo esse tempo, em nenhum dia sequer, ouvi outra demanda senão a de inovar e fazer diferença. Nada mais presente do que o novo, nisso não há nenhuma novidade.

Estive conselheiro de um grupo que tem em seu portfólio uma empresa centenária cujo slogan é: “Há 160 anos atualizando a sua tradição”.

Pois é.

101% dos posts no Linkedin contemplam a demanda citada, sob a alegação de que “o mundo mudou e em extrema velocidade”. Nada diferente de 1967, quando em ingressava no mercado e, embora meu cargo fosse de contínuo, o que rolava era profunda instabilidade.

Natural que seja assim e permaneça. Amanhecer vivas continuará sendo o problema para as pessoas e as organizações que terão o desafio de fazer cada dia novo e distinto.

Ocorre que nestes quase 56 anos de jornada assisti, participei, contribuí ou sobrevivi a pouquíssimos processos de inovação, ainda que tenha vivido zilhões de outros movimentos, até expressivos, de mudança estrutural, portffólio, controle, marketing, supostamente inovadores.

Inovar não é mover-se em outra direção. É ser outro, diferente não de outro, mas de si mesmo. Essencial e radicalmente.

Alguns anos atras atendi um empresário com o qual, no nosso primeiro contato, travei o seguinte diálogo:

- Então, prezado, em que posso te ajudar?

- Quero fechar a minha empresa.

- Pois feche.

- Mas eu não quero fechar a minha empresa.

Pois é. Quase sempre é assim. A maioria dos clientes que atendi e atendo são os mais refratários a fazer o Novo, ainda que responsabilizem os outros e as circunstâncias pela impossibilidade de fazê-lo.

Resumindo uma estória longa curta, com este empresário vivi uma experiência marcante de construção de algo verdadeiramente novo. Nasceu de nossa decisão conjunta de que para que algo de fato acontecesse na organização da qual ele era fundador, sócio da esposa e de três filhas casadas, era matá-lo.

E assim foi feito. Combinamos e em data aprazada reunimos a cúpula proprietária e os principais executivos dirigentes da empresa e, solenemente, comunicamos a morte do fundador.

Claro que foram montadas redes de proteção, calmantes artificiais e naturais, água com e sem gás, mas foi feita a comunicação direta e contundentemente.

Era impensável, até por ele próprio, que um dia ele poderia vir a faltar. Alguns dias atrás recebi um vídeo dele comemorando aniversário da empresa. Vivo, alegre e saltitante.

Já pensei em relatar esta e outras vivências em livro. Resolvi não o fazer. Vai que ele se torne um best seller e me tire da vidinha que tenho hoje.

Eu quero fechar a minha fábrica.


NOTA: A foto foi clicada por mim. O ovo foi colhido no galinheiro de minha morada.


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