segunda-feira, 31 de outubro de 2022

HABEMOS CAPO

 

CLASSIFICAÇÃO

  TOTAL DE VOTOS

%

 

 

 

LULA

60.345.999

38,57%

BOLSONARO

58.206.354

37,20%

ABSTENÇÕES

32.200.558

20,58%

NULOS

3.930.765

2,51%

BRANCOS

1.769.678

1,13%

 

 

 

TOTAL

156.453.354

100,00%



Os números nos fazem refletir sobre as eleições que se encerraram ontem.

De pronto devo dizer que estou entre aqueles que torcem para que tudo caminhe para que o Brasil consiga enfrentar os imensos desafios que estão colocados, especialmente no que tange à justiça social.

Ocorre que as opções de escolha resultaram em qualidade duvidosa, sendo o vencedor do pleito o ex-presidente ou mesmo, ao contrário, se fosse o atual.

1.     Ninguém saberá se os 24,23% (abstenções, nulos e brancos) dos eleitores comparecessem às urnas manifestando a sua escolha, qual seria o resultado.

 2.     Dos que votaram, todos sabemos que há uma parcela expressiva de eleitores que optaram por um para não votar no outro. Deixo com o leitor a estimativa de pessoas que votaram por rejeição mais do que por escolha. Lembro apenas que o índice de rejeição tanto a um quanto ao outro, medido em pesquisas de intenção de voto, ultrapassaram a 40%.

3.     Usando este percentual de rejeição, seja qual for o candidato, ele seria eleito por, aproximadamente 20 a 23% dos votos “por convicção”.

 4.     Esta análise, ainda que passível de questionamentos vários, nos leva a refletir que de 70 a 80% dos brasileiros, votaram sem convicção no candidato confirmado nas urnas eletrônicas. E o pior, mesmo que fosse o outro candidato, vale a mesma assertiva.

Observando a ressonância do resultado, parece que há um misto de alívio e esperança no novo presidente, o que é ótimo face ao desgaste pelo que todos passamos há meses.

Outro ponto a considerar é que o Congresso será constituído com parcela expressiva de “opositores” no Senado e Câmara o que pode, por um lado, dificultar sobremaneira a governabilidade ou, por outro, legitimar as decisões empreendidas pelo novo presidente.

Neste particular, mantido o modelo de governo de coalisão, como tem sido historicamente, coloca o risco de barganhas o que, face ao peso da oposição, de “preço” alto na mesa de negociações.

Certo estamos todos de que o Brasil boia, mas não afunda.

Pelo menos até aqui.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

SILÊNCIO

 

Brasileiros, praticamente todos nós, estamos centrados em escolha que alterará pouco, essencial e objetivamente, DE FATO, as nossas vidas.

Talvez parte dela, é claro, já que não vivemos isolados, fora da dinâmica econômica e social restrita a este lugar no mundo.

Nossa Vida quem governa ou desgoverna somos nós. Cada um, na estreiteza de seu reino.

E aqui reside a singela reafirmação do óbvio que escandaliza. Na escolha que fizermos no domingo não colocaremos aquilo que poderá alterar as nossas exterioridades, pois não temos nenhum domínio de que quem escolhermos seguirá aquilo pelo qual escolhemos.

Poucos de nós têm um projeto de futuro, mesmo que para si, imagine para as exterioridades.

Domingo confirmamos o que somos ou escolhemos por vir a ser.

Facilita tudo quando eu me descubro só, eu e minhas circunstâncias, na realização dos meus mais caros propósitos.

Qualquer que vier a ser a dinâmica das exterioridades, eu ainda me verei sujeito ou assujeitado a estas circunstâncias. Jamais ficarei livre, absolutamente.

A Democracia, que me envolve ao outro, não me liberta de meus grilhões.

Nem o Totalitarismo, tão pouco.

Sou o Sujeito de mim, ainda que silenciado.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

CHANCE

 

Intoleráveis os tempos a que nos trouxeram estas duas lideranças.

Um fracasso retumbante as inúmeras atitudes, de ambos, mais do que repudiáveis e reprováveis, além da ação ou omissão criminosa em diferentes oportunidades em que era fundamental a conduta ilibada do principal governante do país.

A liderança pelo exemplo tece a malha moral e política dos liderados.

Tanto o ex quanto o atual faltaram e não é por outra razão que os índices de rejeição à um e ao outro são por demais expressivos, a ponto de pelo juízo de valor de cada eleitor, escolher um por ser “menos pior” do que o outro.

A grande maioria de nós sabemos quanto temos que nos esconder em argumentos frágeis para suportar a nossa posição política. E quanto perdemos lucidez e por força disto, colocamos em risco relacionamentos de toda sorte em frangalhos.

Os italianos amargaram uma experiência trágica após a operação “Mãos limpas” liderado pelo juiz Aldo Moro (assassinado tempos depois), que teve como resultante os anos dramáticos de Berlusconi.

Nos assemelhamos tanto que deveríamos ter aprendido com eles.

Ainda há tempo e está em nossas mãos ditar o que desejamos de fato. Tenho pensado em ir às urnas e anular o meu voto. É tolo aquele que pensa que nessa atitude está um ato de omissão. Anular o que a história nos fez de abominável é uma atitude de coragem e sobretudo de lisura política. É dizer, essencialmente, isto NÃO.

Transigir, no entanto, é usar inteligência estratégica para que a decisão minore os fatores restritivos que ela contempla. Somados os votos nulos às abstenções podemos ter mais de 30% dos votos invalidados. Boa parte deles por concordarem que nem um nem outro candidato merece o posto a que, novamente, almeja.

Estou quase convencido de que há, no quadro que se apresenta, um risco maior de um desfecho absolutamente temerário. Refere-se à continuidade do atual presidente.

Ele foi eleito por uma avalanche democrática impulsionada pela imensa insatisfação de todos nós com o maior saque aos cofres públicos em 500 anos de má utilização dos mesmos. Nunca agentes públicos e privados desviaram tanto os suados recursos dos contribuintes. Uma calamidade impossível de ser escondida. Uma chaga que não se apaga.

É, para o ex-presidente, o maior e suficiente senão para não conferir a ele uma nova oportunidade. Ninguém pode negar, no entanto, que os seus oito anos de governo trouxeram avanços importantes em várias áreas da administração pública.

Em que pese o perfil caudilhesco e ultrapassado que vitimou o seu próprio partido de construção de sucessores, o ex-presidente é reconhecido em diferentes estancias nacionais e internacionais como uma hábil negociador.

O ex-presidente, dadas as circunstâncias presentes, parece ser mesmo a nossa opção, mas no meu caso, há uma determinante.

As próximas 250 horas serão decisivas. A avalanche anticorrupção vai novamente colocá-lo à prova e é indispensável que assim seja. Ele terá que demonstrar com argumentos objetivos e insofismáveis que ele volta a cena, mas não mais para cometer os crimes hediondos que por sua ação ou omissão foram praticados no tempo que ocupou a Presidência da República.


terça-feira, 18 de outubro de 2022

SEMSENSO II

 

Não gosto do que se nos avizinha ao Alvorada.

Não gosto do que a realidade nos impõe neste momento naquilo que se refere ao processo eleitoral para o Palácio da esperança permanente. Há aqui, também, uma inversão profunda de valores.

O processo, embora legal, é cruelmente ilegítimo. A maioria está sendo desconsiderada o que, sob qualquer prisma, confere-se em um golpe mortal ao conceito essencial de democracia.

A maioria não quer quem está por ser eleito. Não quer nem o candidato A e nem o candidato B. A maioria está gritando: “Eles Não!” As pesquisas dão conta índices de rejeição acima de 45% tanto para um quanto para o outro candidato.

Se somados aos votos brancos e nulos (e parte das abstenções) àqueles dos eleitores que estão escolhendo o candidato A para que o candidato B não vença mais os votos dos eleitores que estão escolhendo o candidato B para que o candidato A não vença, a apuração conferirá um resultado avassalador.

A minoria está escolhendo quem presidirá o país. Nada mais trágico e ilegítimo.

São numericamente inferiores os eleitores de convicção tanto no candidato A quanto no candidato B. Por diferentes razões, mas seja pela qual for, não há convicção, sem temor ou sem ressalvas.

Até mesmo nestes, relativamente ao universo completo de eleitores, numericamente inferiores, não há uma escolha irrestrita.

Busco compreender e confesso tenho sérias dificuldades. O que verdadeiramente nos trouxe a este quadro de equívocos? Por que optamos pela não manifestação pura de nossa vontade? Por que nos omitimos diante de questões tão graves para o presente e para o futuro?

Por que traímos aos nossos mais profundos desejos? Por que escolhemos aquilo que nos exporá à nossa própria verdade? Por que seguimos aos outros que também não querem aquilo que, no fundo, nós também não queremos?

Por que não somos capitães de nossa própria alma?

Rogo para que os ilustres legisladores tenham a eleição de 2018 e 2022 como algo a ser considerado. Que revisem a estrutura dos marcos regulatórios da matéria. Considerar inválida a maioria é, essencialmente, um equívoco determinante para o desconcerto da sociedade.

Talvez o futuro aponte que o equívoco seja meu.

Melhor.


sábado, 15 de outubro de 2022

TRAGÉDIA

 


O espaço é por demais reduzido para expor o que já é sabido, institucionalmente documentado e disponível a qualquer cidadão que se interessar possa.

Trago aqui fragmentos do relatório do Ministro Edson Fachin que julgou procedente o pedido de Habeas Corpus aos processos contra o ex-presidente. Atentem para o fato de que o Habeas Corpus não foi para o réu, mas para o processo judicial.

“A decisão por meio da qual foi concedida a ordem de habeas corpus para declarar a incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba ao processo e julgamento determinando-se a remessa dos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal.”

“Na estrutura delituosa delimitada pelo Ministério Público Federal, ao paciente são atribuídas condutas condizentes com a figura central do grupo criminoso organizado, com ampla atuação nos diversos órgãos pelos quais se espalharam a prática de ilicitudes, sendo a Petrobras S/A apenas um deles, conforme já demonstrado em excerto colacionado da exordial acusatória.”

“Considerados os precedentes sobre o tema e as razões expostas, afigura-se impositivo, ante o que se formou como direção majoritária no Tribunal, o reconhecimento da procedência dos argumentos declinados pelos impetrantes para reconhecer a incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal as Subseção Judiciária de Curitiba ao processo e julgamento da Ação Penal.”

“Como corolário de tal conclusão, nos termos do art. 567 do Código de Processo Penal, devem ser declarados nulos todos os atos decisórios, inclusive o recebimento da denúncia, determinando-se a remessa dos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal, considerada a narrativa da prática delitiva no exercício do mandato de Presidente da República.”

“Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus para declarar a incompetência da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba para o processo e julgamento das Ações Penais Triplex do Guarujá, Sítio de Atibaia, sede do Instituto Lula e doações ao Instituto Lula, determinando a remessa dos respectivos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal.”

Assisti ao julgamento do início ao fim e li, mais de uma vez, ao todo das 51 páginas do relatório do Ministro Fachin. Emocionei-me com o segundo voto, que deu provimento ao pedido de Habeas Corpus. A ministra Rosa Weber decidida a não conceder o HC para que o ex-presidente fosse mantido preso, exaltou a lisura e competência do colega Fachin e votou com a Constituição. “Todo réu tem direito ao juiz natural, isto é, aquele da cidade onde foram cometidos os delitos.”

Pois é.

Da mesma forma, e com o mesmo interesse e atenção, assisti a boa parte das mais de sessenta reuniões da CPI da Covid e li o relatório de 1180 páginas, que estão disponíveis a qualquer cidadão que se interessar possa.

Consta no relatório:

“As consequências dessa estratégia macabra foram mensuradas pela ciência. Se medidas não farmacológicas tivessem sido aplicadas de forma sistemática no País, poderiam ter reduzido os níveis de transmissão da covid-19 em cerca de 40%, o que significa que 120 mil vidas poderiam ter sido salvas até o final de março de 2021. A mais grave omissão do governo federal foi o atraso deliberado na compra de vacinas. Realizadas as oitivas de investigados e testemunhas que atuaram em cargos estratégicos do governo federal ou que colaboravam paralelamente com o presidente Bolsonaro, de representantes das desenvolvedoras de imunizantes, bem como de especialistas na área da saúde, foi possível concluir que a aquisição de imunizantes deveria ter figurado como a principal providência no processo de prevenção à disseminação do novo coronavírus e, consequentemente, de proteção à saúde das pessoas, mas infelizmente essa medida foi negligenciada.”

O Brasil, dramaticamente dividido, assiste aos dois meliantes colocarem em sua propaganda eleitoral cenas as mais escabrosas e aterrorizantes, como traficantes que disputam ponto de droga.

Sempre fui careta, estive longe de drogas de qualquer natureza. Curto outros baratos. Eles me são mais caros.


terça-feira, 11 de outubro de 2022

VEREDA

 


A gente poderia era ultrapassar de ser novela, ficção e cair na real.

A gente poderia era fazer a travessia.

Poderia era construir a vida melhor no futuro, vendo acima do muro de hipocrisia que insiste em nos rodear.

A gente poderia era abrir um novo começo de era, com habilidade pra dizer mais sim do que não, fazendo a vida mais clara e farta, repleta de satisfação.

A gente tem o direito do firmamento ao chão.

Com tantos apoios recebidos a gente podia era fazer essa liderança abdicar de egocentrismo e entender, com toda inteligência e sagacidade política que lhe é peculiar, que não se trata mais de algo de seu, isolado, partido, mas de todo um desejo coletivo que valha pra qualquer pessoa que quer realizar a força de uma paixão.

A paixão de ser feliz, afinal. E viver tudo o que há pra viver.

O Brasil reúne todas as condições para isto, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender.

A gente poderia era levar aos debates, através dessa liderança, não um confronto menor, de defesa pessoal, mas um projeto de país que nos arrebate e que a gente se sinta autor.

A gente poderia era nos encontrarmos, ainda que por caminhos os mais tortuosos e diversos. A gente poderia era crer no amor numa boa de gente fina, elegante e sincera.

A gente poderia era nos reencontrarmos quando fomos amantes, família, tias e tios, amigos, colegas. Irmãos.

Até porque o tempo voa, escorre pelas mãos.

A gente até que poderia.