Não se trata de alienar-se da
realidade cotidiana buscando consolo em fábulas infantis para encontrar,
naqueles tempos, um resto de humanidade. É isto sim, mas é, também, mais do que
isto.
No fundo, e alguém em
comentário apontou, junto à toda esta alegria há uma angústia. E não é pequena,
podem estar certos.
Nos boletins e relatórios de
autopsia, os médicos usam verbo que a mim paralisa: evoluir. A expressão “o
paciente evoluiu para óbito” dá conta que a evolução contempla a morte.
Nada mais exato.
Ocorre que “em vida” isto me
acomete quando penso Cultura. Desde os Clássicos, passando pelos Modernos e até
pós-Modernos, evoluímos. Em tempos mais recentes o acervo do debate na cena de
produção artística a mim entristece.
Do debate político, da
produção literária, do cinema, do teatro e, especialmente, à música a evolução
é um horror. Perdoem-me, há saudosismo aqui sim. Sou apaixonado por
Shakespeare, por Platão, por Machado, por Galeano, por Neruda, Chico, Caetano,
Roberto e por tantos e tantos outros não laicados no presente aos bilhões na
infernet.
Como subproduto desta evolução
desaguamos em tiquetoques, breves, idiotizantes, paralisantes. Dizem que o
Instagran está evoluindo para a mesma arquitetura e que o Facebook vai mudar.
Estará explícito que quem “escolhe” a trupe com quem vamos “amigar” será o tal
de (algo)ritimo.
A Humanidade até então nunca
esteve tão exposta a si mesma. O Humano até então nunca se mostrou tanto quanto
no tempo presente. Vem por aí a Inteligência Artificial para colocar a pá de
cal.
Evolução a zilhões de
borabites, toneladabites, tiquitoquiando cérebros e corações.
Não incluo o Funk na minha
playlist, mas ele me ajuda a entender tamanha evolução da espécie. As letras
são contundentemente esclarecedoras na medida em que coloca a fêmea ciante e o
macho membrante.
Adoro o florir de abacateiros.
É provável que alguém aí me dirá, que a foto que ilustra este post não se trata
de um abacateiro, mas de uma mangueira. E eu morrerei e até matarei se for
preciso, embora sabendo ser uma mangueira, afirmando e reafirmando tratar-se de
um abacateiro.
Sim, evoluímos para a bestialidade.
Até breve.
NOTA: Todos os textos publicados na data de hoje foram editados em minha página no Facebook ao longos dos últimos dias. Foi o jeito que me permiti comemorar o nascimento há dez anos de minha primeira netinha. Este post quer responder àlguns amigos que me questionaram por estar distante da realidade.
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