Estamos desde a quinta-feira em Porto Seguro-BA.
Comemoramos aqui a passagem do
aniversário de uma amiga-irmã com a qual convivemos há quase quarenta anos.
Além dela, seu marido e mais
dois casais com quem, da mesma forma e pelo mesmo período, temos o privilégio
de conviver.
No jantar de ontem, no
belíssimo restaurante do Hotel Kyuara, nos perguntávamos o que determinou a
longevidade de nossa amizade.
Foi Lydinha que, em minha
opinião, trouxe o amálgama mais provável da química que nos entrelaça há quase
quatro décadas: zelo.
Na saída do restaurante
Lydinha me perguntou se eu conhecia o poema GUARDAR, do Antônio Cícero. Já em
casa, de um dos casais do grupo, onde estamos hospedados, ela o colocou
no celular na voz do próprio poeta que nos emudeceu a todos.
Guardar uma coisa não é
escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda
coisa alguma.
Em cofre perde-se a
coisa à vista.
Guardar uma coisa é
olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela
iluminado.
Guardar uma coisa é
vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar
acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se
guarda o voo de um pássaro
Do que de um pássaro
sem voos.
Por isso se escreve,
por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua
vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que
guarda um poema:
Por isso o lance do
poema:
Por guardar-se o que se
quer guardar.
Talvez seja isto que estamos
todos necessitados para reduzir tantas rupturas. Rij, a querida aniversariante,
há muitos anos, sempre que nos encontramos repete: “Cada dia que passa eu gosto
mais das mesmas pessoas.”.
Eu também.
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