Assisti, ontem, no Palácio das
Artes – BH, ao show de Caetano.
No início do espetáculo achei
que a euforia normal carregasse por parte do público a expectativa que pudesse
tornar-se um ato político. Uma ou outra manifestação nesse sentido foi tentada.
Ocorre que quem esteve em cena
foi o artista e não o homem.
Aquela euforia inicial deu
lugar à uma certa dormência reflexiva, na medida em que Caetano trazia
composições densas e intimistas, muitas delas desconhecidas pelo grande
público.
Senti o show como biográfico e
com um certo aceno de saída. Caetano foi, como todo homem próximo aos oitenta
anos, nostálgico. Falou sobre momentos da carreira e de pessoas chaves no seu
enriquecimento, especialmente como músico. Jaques Morelenbaum, por exemplo.
Gil, naturalmente.
Uma das passagens que mais me
emocionaram foi quando ele se disse “tímido musical” (lembrei-me de que, para
ele, músico é Djavan) e que a vida ideal é ser músico. Deparei-me comigo, quase
sozinho, num aplauso efusivo.
Acho que sei o que Caetano
pode ter querido dizer com isto.
A inserção de canções que
marcaram a sua identidade e embalaram o espírito de milhões de fãs como eu, dão
ao espetáculo, quase uma transcendência ultrapassando ao artista e fazendo dela
o seu principal legado.
Caetano, portanto, em nenhum
momento sugeriu, nem por um deslize, qualquer oportunidade para explicitar suas
convicções políticas.
Já com ele fora do palco, na
saída do público, ouviu-se parcas manifestações e palavras de ordem.
Tenho para mim que a conduta
de Caetano, o artista, não poderia ser outra, reservando ao homem, um outro
espaço para a cena pública.
Devo dizer, no entanto, mesmo
que ele fizesse do seu gigantismo como persona, uma oportunidade para turbinar
suas preferências políticas, ainda assim nada ofuscaria em mim o fascínio que
tenho por Caetano.
Paguei e fui lá para assistir
ao gigante, não ao homem.
Caetano, ainda que usando o
recurso de teleprompter, a mim serve e servirá como um bálsamo.
Temos, entre nós, o
brilhantismo de um gigante que vive a vida ideal.
Até breve.
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