“Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas
cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores
todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas
bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um
arco-íris de plumas.”
Rubem Braga
Doravante acreditarei na Verdade. Doravante acreditarei na Verdade que
contempla a Mentira. Todas elas.
A mulher do rei é honesta. A mulher do rei é vadia. Se ela for honesta, não será suficiente, o rei fará de um tudo para que ela pareça aos olhos de todos, ser honesta. Se ela for vadia, o rei fará de um tudo para que todos creiam que ela não é vadia.
Essa a Verdade.
Nos primórdios nos contamos a Verdade Original: Deus existe. E foram tantas e quantas as Mentiras que se sucederam para parecerem a todos que Deus existe que, quase, essa seja a Verdade.
“Farei o homem à minha imagem e semelhança.” Nossa pretensão não tem limites. Construímos Deus ou a ideia dEle, à nossa imagem e semelhança. Como não seria viável concebê-lo Todo, elaboramos a estória e a História de um filho de mãe virgem, que nos salvaria.
Durante milênios nos matamos por isto, durante milênios involuímos por isto.
Como conviver com a Verdade Original impregnada de uma Mentira Essencial?
Acreditando na Verdade. Acreditando na Mentira. Então Verdade e Mentira são o mesmo? Que importância tem, se tudo é. No fundo ninguém nunca saberá, sendo a rainha honesta, de seus sonhos ou pensamentos para lá de libidinosos. Sendo vadia, ninguém saberá de seus inúmeros esforços para um dia largar essa vida.
Deixemos de lado a filosofia de botequim, regada à cerveja barata (com ou sem pombos moídos e tira-gosto de carne fraca?), e vamos ao que interessa: a Verdade.
O povo é desonesto, logo seus representantes também o são. Os representantes foram seduzidos pelos Poder e se tornaram desonestos e, portanto, um péssimo exemplo aos seus representados.
Daí, deixar 100 contos na CNH quando flagrado pela PRF, pedir NF no valor superior para o Relatório de Viagem, não emitir recibos quando profissional liberal assemelha-se a pagar porcentual sobre contratos (públicos e privados) a título de propina, são Verdades.
Mentira! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Verdade.
Caixa um, pode. Caixa dois pode, em termos. Vamos fazer uma lei disciplinando a orgia. Fixaremos tetos para as campanhas, e determinaremos um Fundo (bem fundo) de bilhões de reais que os contribuintes contribuirão contribuindo com sua passividade histórica.
Verdade Original com Mentira Essencial.
“Na guerra, a primeira vítima é a Verdade!” A maioria de matérias que tenho lido, de diferentes tendências, citam esta máxima.
Não fosse a Mentira, enlouqueceríamos. Não fosse a Verdade, também.
NOTA: Releitura do post VERDANTIRA publicado aqui em 05 de abril de 2017.
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