quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

PONTOS

 


- Ei, meu filho... Tá chegando, hein?

- Nunca estive tão perto dos setenta...

- Tem a resposta, Lozinho?

- Mãe, não há resposta...

- Nananinanão, menino! Não me venha com esta conversa. Sem chance, meu filho! Coloque-se a pensar e me diga algo, você teve muito tempo pra isso...

- É que...

- Num tem quê, nem porquê e quequerequê...

- Você quer o ponto na ponta da língua de cor e salteado?

- Exatamente isso, meu filho. Você nunca teve dúvida disso.

- Você não mudou nada, né mãe?

- E você acha que eu me esqueci das suas manhas?

- Ô, mãe, pega leve...

- Eu pegar leve? Estivesse aí eu pegaria era o chicote...

- Nem me lembre...

- Que tempos, Lozinho...

- Eu era feliz e não sabia...

- Apanhando de sua mãe?

- Sabe o que mais eu odiava quando você me batia?

- Odiava?

- Era que você batia e mandava eu parar de chorar...

- Como mãe eu posso parar de chorar se você está me batendo? Lembro disso, filho.

- Inclua isto na resposta do dia 27...

- Como assim?

- O ódio, mãe...

- Não vou conseguir esperar até dia 27, meu filho...

- Não aprendi a odiar, mãe.

- Filho...

- Aquela lição, quase diária, me forçou a compreender.

- Você me perdoou, meu filho?

- Não se trata de perdoar, mãe, trata-se de compreender como já te falei.

- Meu filho, vou desligar, hoje foi muito pra mim...

- Pra mim também, mãe.

- Beijo, meu filho.

- Beijo, mãe.


Nenhum comentário:

Postar um comentário