- Lozinho...
- Ei, mãe.
- Você anda falando com seus amigos
sobre as nossas conversas?
- Sim.
- Não devia, filho. Será que
entenderão?
- A maioria sim, eu acho. Eles
sabem que eu falo não “de” você, mas “a partir de” você...
- Poesia, filho?
- Uai, primeira vez que você se
refere a mim assim...
- Não é verdade.
- Que eu me lembre, sim.
- Você não se lembra daquele
texto que escreveu num Dia das Mães para mim?
- Claro, mãe!
- Então. Eu mandei colocar em
uma moldura e fixei lá na sala de visita.
- Sim.
- Todo mundo que chegava lá eu
dizia que era você, meu filho, quem tinha escrito.
- Quando você se foi, guardei
comigo. Tenho até hoje em casa.
- Leia agora para mim, meu
filho.
- Eu não estou com ele aqui,
mãe.
- Depois, então...
- Sim, prometo, mãe.
- Lozinho, você guarda mágoa
de sua mãe?
- Alguma...
- Mesmo?!!!
- Você se lembra quando você
comprou uma máquina manual de cortar cabelo?
- Tinha que fazer economia,
meu filho, eram tempos difíceis...
- Lembra quando a senhora foi
cortar o meu cabelo e do Getúlio lá no jardim de casa? Logo que começou a
máquina agarrou e você puxou e arrancou um naco de pelos?
- Doeu, né?
- Maldade pura, não foi mãe?
- E você durante um tempão dramatizava
a cena pra todo mundo...
- E você ria, ria tanto de ter
que sair correndo para o banheiro com o xixi escorrendo pelas pernas.
- Meu filho, não me lembre
disso...
- Mãe... Manhê...
- Vou desligar, vou ter que
correr para o banheiro. Te ligo, meu filho, depois. Fica com Deus.
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