- Meu filho!
- Fala, mãe!
- Deus que me livre, nossas
conversas estão de amargar, você não acha?
- Mãe e filho podem falar de
um tudo, né.
- Tudo bem, mas vamos açucarar
esse papo senão prefiro ficar aqui ouvindo as lamentações de seu pai.
- Ele continua?
- Não conte pra ninguém, mas
ele continua com o ciúme do padre até hoje...
- Mas ele tem razão pra...
- Meu filho, comporte-se!
Respeite sua mãe!
- Tudo bem, mas que ali tinha
coisa tinha...
- Uma paixão clandestina, quem
é que não teve?
- Bora mudar de assunto?
- Num tô falando?
- Genérico, né mãe?
- Sei, viu? Você continua
aquele menino de coração mole, né?
- Tive a quem puxar, né?
- Escrevendo, filho?
- Uns trem sem pé nem
cabeça...
- Leva a sério a escrita, meu
filho. Principalmente agora, mais vivido.
- Sempre levei escrever a
minha atividade mais séria...
- Editou um de seus livros?
- Não.
- Então? Como pode ser séria.
- Penso que não há mais o que
escrever que verdadeiramente valha a pena, mãe. O que era essencial já está
escrito. O que se faz são derivações dos clássicos.
- Não diga uma coisa dessas,
Lozinho. Derivações sobre novas leituras abrem horizontes desconhecidos.
- Pode ser...
- Você gostava tanto do
Guimarães Rosa, há algo de mais original?
- “Pelejar por exato dá erro contra
a gente. Não se queira, viver é muito perigoso.”
- Ele embrenhou pelos sertões
da complexidade para chegar ao simples, meu filho. A simplicidade é o ápice.
- Que nem ele foi o Manoel de
Barros...
- Cruzo com o pantaneiro aqui,
às vezes, com seus caderninhos de anotações e seu toco de lápis...
- “A morte é indestrutível.”
- Beba deles, meu filho. Você
não se saciará.
- Mãe?
- O que é meu filho?
- Eu adoro poder conversar
contigo.
- Vamos continuar amanhã,
então. Tenho mais o que fazer.
- Beijo, mãe.
- Beijo, Lozinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário