quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

EVIDÊNCIAS (2)

 


- Mãe?... Ô, mãe...

- Oi, meu filho. Estou aqui.

- Uai, eu consigo?

- O quê?

- Ligar com você?

- Por que não, meu filho?

- Achava que era só de você para comigo...

- Ora, menino, deixa de arte e continua o que estava dizendo...

- Não sei se saberia, é que há muito a dizer.

- Apenas diga, além da fome e das guerras...

- Pois é, mãe. Há uma pandemia...

- Uma tristeza, meu filho. Eu nasci sob a gripe espanhola, né? Os cientistas fizeram tanto para sanear e ainda assim...

- Não há limite à estupidez, mãe. Quando vamos, de fato, aprender?... Mãe? Mãe?...

- O que é meu, filho?

- Te fiz uma pergunta.

- A resposta já não está mais comigo.

- Como se não bastasse, há ainda o agravamento do clima.

- A banalidade do mal, meu filho. São séculos de exploração nefasta da natureza.

- As cercas naquela estrada para Santa Luzia...

- Na Beira Rio?

- Sim, mãe. O Rio das Velhas transbordou e depois que baixou deixou as cercas repletas de resíduos dependurados... Uma imagem que vale mais do que mil palavras.

- Com tantos sinais e ainda assim, não é, Lozinho?

- Tenho receio de te fazer uma pergunta...

- Faça.

- Como Ele vê isto?

- É mesmo preciso que Ele se manifeste? Mais?

- Acho que todos nós que estamos aqui gostaríamos de saber. Até quando, mãe?

- Filho, você está cansado. Trabalhou o dia inteiro. Vá se deitar, vai. Amanhã a gente continua conversando, pode ser?

- Claro, mãe. Boa noite.

- Dorme com Deus, meu filho.

- Você também, mãe. Dorme com Deus.


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