- Filho...
- Ei, mãe...
- Tô tão emocionada...
- Eu também.
- Gostei tanto de ter podido
conversar contigo, meu filho.
- Eu também adorei, mãe. A
gente podia continuar...
- Pode ser meu filho, mas
agora é importante que você me diga: você está satisfeito com o que conquistou,
meu filho?
- Recebi muito além do que
poderia imaginar...
- Especialmente?
- As viagens que fiz pelo
mundo afora, mãe. Estive em lugares inimagináveis, experimentei emoções
profundas, me encantei com tanta coisa...
- Há muito a explorar aí, meu
filho...
- Sem dúvida, mãe.
- Profissionalmente?
- Não posso me queixar, mãe.
Ocupei posições importantes como executivo, ascendi na carreira, montei minha
empresa, estive professor nas melhores escolas de negócios do país e hoje,
ainda, estou conselheiro em várias empresas.
- Que bom, meu filho?
- Me fez lembrar a minha
formatura... Depois que fui buscar o
diploma no palco e na volta vi você, só você, de pé me aplaudindo, mãe...
- Eu sempre quis muito que
isto acontecesse, meu filho.
- Construí minha morada, foram
mil dias de obra, cada centímetro com gosto, muito empenho, dedicação e zelo.
Adoro meu canto, mãe. Invariavelmente, quando estou molhando os jardins me
lembro de você.
- Eu amava as minhas rosas...
- Fiz poucos, mas valiosos
amigos e nunca guardei qualquer mágoa de quem quer que seja...
- Eu sei disso, Lozinho.
- Fiz, com Vera, uma jornada
de afeto que completa este ano 53 anos de convivência e que nos deu frutos
maravilhosos, três filhos e quatro netos...
- Por enquanto, né?
- Acho que os meninos vão
parar por aqui. Liz, Valentin, Antônio e Helena são dádivas, mãe.
- Família...
- Tudo mãe! O meu maior
patrimônio.
- Amo você por isto, meu
filho. Nosso tempo é curto, mas há algo ainda que preciso ouvir de você...
- Não precisa, mãe, por
favor...
- É importante, Lozinho. Eu
quero muito ter claro que você me perdoou...
- Já escrevi, mãe, sobre isto
tantas vezes...
- É importante, meu filho...
- Não guardo nenhuma mágoa e
nem ressentimento por você ter me dito, quando eu tinha onze para doze anos,
depois de uma traquinagem minha, que deveria ter me matado no dia em que eu
nasci...
- ...
- Mãe?... Mãe?...
- ...
- No bilhete que te entreguei,
há exatos cinquenta anos, meu texto terminava assim: “Benditas sejas, mãe, por
ter me dado a possibilidade de ver o mundo.”.
- ...
- Mãe...