domingo, 2 de janeiro de 2022

ABERTURA

 


Abre o pano: o espetáculo eleitoral tragicômico em 2022 promete excitar a plateia, como há muito tempo não o faz.

No palco, o enredo coloca em xeque dois grupos de atores em polos não opostos, mas incomunicáveis.

A sanha midiática e seus interesses escusos, incluindo aí os sites monetizados de traficantes de notícias e produtores de factoides os mais escalafobéticos possíveis, intelectuais de duvidosa idoneidade, tudo isto amplificado pelas delirantes redes sociais compõem o resto da cena.

De um lado o julgamento de mérito nos processos judiciais em curso, protelados pela burocracia perversa das aparentes instituições demoniacráticas. Dois réus e seus crimes hediondos e um ex-juiz julgado “incompetente” e “parcial”.

Do outro lado, três personagens secundários buscando serem ouvidos por cegos das duas orelhas em suas propostas para salvar o país combalido, 1,74% de produção das riquezas globais em 2021.

A natureza cômica enquanto tragicomédia reside aqui, própria das republiquetas que compõem a geografia abaixo da linha do Equador. Quase uma tragédia, não rendesse memes hilariantes que nutrem e aquietam espíritos idiotizados.

Assim, a polarização não se dá como nos extraordinários debates acadêmicos de luminares do pensamento sociopolítico no século passado. Longe disto. Estes personagens que hoje pisam o palco fazem tremer nos seus túmulos os pensadores de alternativas mais à Esquerda ou à Direita.

Tempos outros varridos para bem longe da História. Pude vivê-los entusiástica e apaixonadamente pelos corredores da faculdade e mimeógrafos clandestinamente postos a funcionar no DA – Diretório Acadêmico.

A gente acreditava que haveria um futuro e o que nos restou foi isto que está aí.

Dois criminosos; um ex-juiz destogado; um transloucado; um animador de auditório com seu figurino Armani e uma figura feminina integrante da “parte limpa” do que sobrou do naufrágio Ulyssesano em águas profundas do extinto PMDB.

Horror trágico típico para cucarachas.

Em fevereiro completo setenta anos e não estarei mais democraticamente obrigado a apresentar ingresso para fazer parte desta ópera bufa.

Eu ficarei olhando para baixo, reduzido à minha insignificância.

 

Até breve.

 


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