Abre o pano: o espetáculo eleitoral
tragicômico em 2022 promete excitar a plateia, como há muito tempo não o faz.
No palco, o enredo coloca em xeque
dois grupos de atores em polos não opostos, mas incomunicáveis.
A sanha midiática e seus
interesses escusos, incluindo aí os sites monetizados de traficantes de
notícias e produtores de factoides os mais escalafobéticos possíveis, intelectuais de duvidosa idoneidade, tudo isto amplificado pelas delirantes redes sociais compõem o resto da cena.
De um lado o julgamento de
mérito nos processos judiciais em curso, protelados pela burocracia perversa
das aparentes instituições demoniacráticas. Dois réus e seus crimes hediondos e
um ex-juiz julgado “incompetente” e “parcial”.
Do outro lado, três personagens
secundários buscando serem ouvidos por cegos das duas orelhas em suas propostas
para salvar o país combalido, 1,74% de produção das riquezas globais em 2021.
A natureza cômica enquanto
tragicomédia reside aqui, própria das republiquetas que compõem a geografia
abaixo da linha do Equador. Quase uma tragédia, não rendesse memes hilariantes
que nutrem e aquietam espíritos idiotizados.
Assim, a polarização não se dá
como nos extraordinários debates acadêmicos de luminares do pensamento sociopolítico
no século passado. Longe disto. Estes personagens que hoje pisam o palco fazem
tremer nos seus túmulos os pensadores de alternativas mais à Esquerda ou à
Direita.
Tempos outros varridos para
bem longe da História. Pude vivê-los entusiástica e apaixonadamente pelos
corredores da faculdade e mimeógrafos clandestinamente postos a funcionar no DA
– Diretório Acadêmico.
A gente acreditava que haveria
um futuro e o que nos restou foi isto que está aí.
Dois criminosos; um ex-juiz destogado;
um transloucado; um animador de auditório com seu figurino Armani e uma figura
feminina integrante da “parte limpa” do que sobrou do naufrágio Ulyssesano em
águas profundas do extinto PMDB.
Horror trágico típico para
cucarachas.
Em fevereiro completo setenta
anos e não estarei mais democraticamente obrigado a apresentar ingresso para
fazer parte desta ópera bufa.
Eu ficarei olhando para baixo,
reduzido à minha insignificância.
Até breve.
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