“Cuida-se de uma rubrica orçamentária envergonhada de si mesma, instituída com o propósito de esconder por detrás da autoridade da figura do relator-geral do orçamento uma coletividade de parlamentares desconhecida, favorecida pelo privilégio pessoal de poder exceder os limites de gastos a que estão sujeitos no tocante às emendas individuais, em manifesto desrespeito aos postulados da execução equitativa, da igualdade entre os parlamentares, da observância de critérios objetivos e imparciais na elaboração orçamentária e, acima de tudo, ao primado do ideal republicano e do postulado da transparência no gasto de recursos públicos”, escreveu o ministro Edson Fachin em voto no julgamento.
Algum tempo atras, quando me
acometia um texto sobre Política, eu sentia um mal-estar estomacal. Quando eu paria
o texto este mal-estar minorava até que o próximo adviesse.
Estou um pouco preocupado
porque meu organismo já não reage mais aos descalabros bárbaros que observo na
cena da trágica e famigerada democracia brasileira.
Ocorre que os acontecimentos
relacionados ao Orçamento para 2022 são o ápice para que eu contraísse de vez
uma úlcera duodenal que me levaria a dores alucinantes.
O STF, fundamentado em preceito constitucional, suspendeu os pagamentos
de parcela destinada ao que se evidenciou como SECRETO. Em três semanas o
Congresso (Câmara e Senado), com ampla maioria, votou uma mudança na
Constituição para acobertar o assalto aos cofres públicos.
A pilhagem agora é
constitucional. A trama da camarilha tornou legítima a destinação de verbas
indiscriminadas aos asseclas mancomunados.
Enquanto isto se dá à luz mais
clara dos dias, e não nas caladas das noites, como faziam os ratos de um
passado recente, o Brasil dos miseráveis sobrevive à sua tragédia. Apesar da
injeção bilionária de recursos extraordinários, praticamente um em cada quatro
brasileiros ainda viveu abaixo da linha de pobreza no ano passado, quase 51
milhões de pessoas, segundo os dados da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) divulgados
pelo IBGE, nesta sexta-feira, 3.
Em 2020, as crianças foram,
proporcionalmente, as maiores vítimas da escassez de recursos: mais de 17
milhões de crianças e adolescentes até 14 anos viveram abaixo da linha de pobreza no
País, o equivalente a 38,6% da população nessa faixa etária. Nesse contingente,
3,9 milhões estavam em situação de miséria, ou 8,9% dos brasileiros dessa
idade,
Não fossem os programas de
transferências de renda para enfrentar a pandemia, incluindo também programas
estaduais e municipais complementares, os 10% mais pobres da população teriam
sobrevivido com apenas R$ 13 por mês, o equivalente a R$ 0,43 por pessoa a cada
dia.
Vergonha! Lancinante vergonha!
Há décadas, em períodos de
quatro em quatro anos, somos dopados com soníferos e alucinógenos. A cada
eleição para o posto de comando mais alto do país, somos vitimados por doses
maciças de alucinógenos que nos fazem acreditar que um salvador nos acolherá, e
nos salvará desta vergonha.
Agora turbinados nas infovias em
sites monetizados recebemos doses cavalares de picos na veia da nossa
ignorância e apatia. Vamos para 2022 acelerados em nosso transe maníaco.
Até que o satrapia da vez suba
a rampa. E então entramos no período em que somos acometidos de soníferos
portentosos que nos aquietam como cães domesticados, até que outro processo
sobrevenha.
Há cura para este quadro
patológico? Claro que não, pelo simples fato de que a quem interessa?
Ao contrário de dores
lancinantes provenientes de uma úlcera duodenal, o que me dói, ah! como dói,
são os músculos cardíacos onde penitenciam meus mais intensos sonhos juvenis.
Uma tristeza profunda.
Até breve!
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