domingo, 26 de dezembro de 2021

DEMENCIA

 



O filme é de roteiro, produção, direção e estrelado por atores americanos. O que é ótimo, porque assim será visto por zilhões de pessoas a mais do que se fosse por europeus.

Leonardo de Caprio, no papel de um cientista ancião, e Meryl Streep como uma Hillaryante “Clinton” enrugada, sugerem que o quê o filme propõe não está longe de acontecer.

Não olhem para cima.

Analogias meteóricas podem ser feitas e não serão descabidas com as eleições de 2022, a potencialidade de uma hecatombe nuclear, a irreversibilidade da fome, ou a ausência de líderes capazes de enfrentar os desafios que se apresentam aos terráqueos.

Há ainda o pior, muito pior do que você imagina. Calor letal, fome, inundações, incêndios, piora da qualidade do ar, desertificação, morte dos oceanos, colapso econômico.

Esta é a amostra do que já se abateu sobre a terra. Caos climático, política e cultura, uma devastação que provocamos a nós mesmos e que, não creio, nos colocará em ação redentora.

No filme, talvez o primeiro dos americanos, não há herói capaz. O que se apresenta está, além de senil, como personagem dos anos 70/80 dando tiros no inevitável com um revólver recarregável.

Não há recarga.

O meteoro da negação de fatos científicos demonstrados contundentemente e da imbecilidade patológica na Cultura e a explícita perversidade na Política já nos atingiu em extensão e profundidade irreversíveis.

A questão está entre nós há décadas e apesar de óbvia não mais nos escandaliza.

Estou na casa de minha filha Pretinha em Floripa. Assisti ao filme ontem à noite e estou escrevendo este post agora, na manhã de domingo, no escritório. Sobre a mesa do Cláudio, seu esposo, deparo-me com o primeiro livro de uma pilha: A terra inabitável – Uma história do Futuro, de David Wallace-Wells, best seller do New York Times.

Na capa uma citação de Andrew Solomon: “A terra inabitável atinge o leitor como um meteoro.”

Diferente de Caetano (leia o post anterior), eu não acredito.

 

Até breve. Será?


sábado, 25 de dezembro de 2021

MEDO




Não sei. Se bem que... Há ainda um caetanear?

Pois é, o “ainda” soa dúbio, como para dizer que ele está entre nós, mais (e não “mas”) sem respostas e, pasmo, sem medo.

No Roda Viva, morno ou audaz, no prelúdio da agora sim maturidade plena? Às vésperas dos oitenta, não “causa” ou “causa” pela enunciação de uma falta de “causa”, embora se mostre esperançoso em “um futuro”.

Duas horas de entrevista com respostas ou pela ausência delas, chochas, quase ocas, desradicais, tronchas. Acho que ele está caetaneando, pelo menos a mim, não sei.

Caetano diz que não tem mais medo como quando jovem. Reside aqui um ponto relevante na sua fala. O que vai embora dele junto com o medo? A aproximação do inexorável poupa-lhe do desconforto que nos constitui finitos? Esse trecho da entrevista é de uma profundidade abissal.

“Eu adoro a Sônia Braga, mas essas coisas de reencarnação, vida depois, eu não curto...”

Talvez resida aqui Caetano. No direito a não mais dizer, por já ter dito. Vou vê-lo em abril em BH no show para o qual diz não saber como será.

Assisti-lo agora é como experimentar a similitude em outro da existência em uma época, a nossa época. E Caetano é, ainda, um dos principais ícones de nosso tempo sabendo, como poucos, letrar e embalar o nosso medo.

O medo de não ser, de não ter passado, o medo de ter perdido o tempo, a Vida.

Toda ela.


Até breve.

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

OPORTUNIDADES

 



O mundo produziu, no ano de 2021 até outubro, riquezas perto do montante total de U$95 tri, tendo o Brasil contribuído com U$1,7 tri, o que equivale a 1,74%.

No período apresentado pelo FMI (quadro) de 2011 a 2021 o Brasil reduziu a sua geração de riquezas em 58,8%, enquanto o mundo cresceu em 28,9%.

Pois é.

Há no cenário de novos negócios um começando a atrair investidores: o futebol, que de valor cultural do país está migrando para valor financeiro.

Quem inaugurou a jogada foi o Cruzeiro. Fico pensando em Felício Brandi e Carmine Furletti, presidentes ilustres de um passado glorioso, como reagiriam se vivos estivessem. Clube que manteve o nome pensando no céu como limite e não na moeda que já teria sido.

Celeiro de craques como o próprio adquirente, fenômenos da bola, agora afinal rolarão moedas que contribuirão para a geração de riquezas expressivas ao país.

Investidores topam o risco. A conta é a seguinte: investir em real nos times, que mesmo com todos os problemas ainda conseguem revelar diversos craques, para depois vender jogadores em dólar ou euro.

Em Minas Gerais ainda há mais ouro, como nos tempos do Império.


Até breve.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

EXPLÍCITOS

 



Algum tempo atrás a Academia Brasileira de Letras (ABL) censurou a transmissão ao vivo, em seu site, da conferência ministrada pelo professor da Unicamp Jorge Coli, “O sexo não é mais como era”. Ao apresentar o quadro pintado em 1866 pelo artista francês Gustave Coubert “A origem do mundo”, exposto desde 1995 no Museu d’Orsay, em Paris, e usar a palavra “buceta”, a transmissão foi cortada.


Por sua vez a  iTunes Store, livraria virtual da Apple, censurou o título do livro da escritora americana Naomi Wolf. O título é: “Vagina: Uma nova biografia”. O site da Apple coloca como “V****a”.  Na descrição do livro há uma explicação: “A autora faz uma pesquisa histórica e mostra como a v****a foi considerada sagrada por séculos até ser vista como uma ameaça.

Não há limite à hipocrisia. Tudo bem que a explicitação choque, mas censurar o óbvio é chocante. Choque por choque prefiro o que nela se encerra que é prazeroso às pampas e, para quem não sabe e já passou dos cinco anos de idade é por ali sim que tudo acontece. Adão e Eva são personagens de livros para neandertais.

E mais, trago isso agora porque já é passada a hora de tanta puritanagem encobrindo crimes hediondos. O que deveríamos estar censurando são atos libidinosos explícitos do cotidiano imoral de quem deveria nos trazer exemplos.

A anulação hoje, pelos deputados, do veto ao "Fundão" de R$5,7bi, para financiar as eleições de 2022, por exemplo.


Até breve.

NOTA: Este post foi publicado em 2012 com outras intenções igualmente obscenas. Recebeu como título: PERSEGUIDA.


sábado, 4 de dezembro de 2021

VERGONHA

“Cuida-se de uma rubrica orçamentária envergonhada de si mesma, instituída com o propósito de esconder por detrás da autoridade da figura do relator-geral do orçamento uma coletividade de parlamentares desconhecida, favorecida pelo privilégio pessoal de poder exceder os limites de gastos a que estão sujeitos no tocante às emendas individuais, em manifesto desrespeito aos postulados da execução equitativa, da igualdade entre os parlamentares, da observância de critérios objetivos e imparciais na elaboração orçamentária e, acima de tudo, ao primado do ideal republicano e do postulado da transparência no gasto de recursos públicos”, escreveu o ministro Edson Fachin em voto no julgamento.


Algum tempo atras, quando me acometia um texto sobre Política, eu sentia um mal-estar estomacal. Quando eu paria o texto este mal-estar minorava até que o próximo adviesse.

Estou um pouco preocupado porque meu organismo já não reage mais aos descalabros bárbaros que observo na cena da trágica e famigerada democracia brasileira.

Ocorre que os acontecimentos relacionados ao Orçamento para 2022 são o ápice para que eu contraísse de vez uma úlcera duodenal que me levaria a dores alucinantes.

O STF, fundamentado em preceito constitucional, suspendeu os pagamentos de parcela destinada ao que se evidenciou como SECRETO. Em três semanas o Congresso (Câmara e Senado), com ampla maioria, votou uma mudança na Constituição para acobertar o assalto aos cofres públicos.

A pilhagem agora é constitucional. A trama da camarilha tornou legítima a destinação de verbas indiscriminadas aos asseclas mancomunados.

Enquanto isto se dá à luz mais clara dos dias, e não nas caladas das noites, como faziam os ratos de um passado recente, o Brasil dos miseráveis sobrevive à sua tragédia. Apesar da injeção bilionária de recursos extraordinários, praticamente um em cada quatro brasileiros ainda viveu abaixo da linha de pobreza no ano passado, quase 51 milhões de pessoas, segundo os dados da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) divulgados pelo IBGE, nesta sexta-feira, 3.

Em 2020, as crianças foram, proporcionalmente, as maiores vítimas da escassez de recursos: mais de 17 milhões de crianças e adolescentes até 14 anos viveram abaixo da linha de pobreza no País, o equivalente a 38,6% da população nessa faixa etária. Nesse contingente, 3,9 milhões estavam em situação de miséria, ou 8,9% dos brasileiros dessa idade,

Não fossem os programas de transferências de renda para enfrentar a pandemia, incluindo também programas estaduais e municipais complementares, os 10% mais pobres da população teriam sobrevivido com apenas R$ 13 por mês, o equivalente a R$ 0,43 por pessoa a cada dia.

Vergonha! Lancinante vergonha!

Há décadas, em períodos de quatro em quatro anos, somos dopados com soníferos e alucinógenos. A cada eleição para o posto de comando mais alto do país, somos vitimados por doses maciças de alucinógenos que nos fazem acreditar que um salvador nos acolherá, e nos salvará desta vergonha.

Agora turbinados nas infovias em sites monetizados recebemos doses cavalares de picos na veia da nossa ignorância e apatia. Vamos para 2022 acelerados em nosso transe maníaco.

Até que o satrapia da vez suba a rampa. E então entramos no período em que somos acometidos de soníferos portentosos que nos aquietam como cães domesticados, até que outro processo sobrevenha.

Há cura para este quadro patológico? Claro que não, pelo simples fato de que a quem interessa?

Ao contrário de dores lancinantes provenientes de uma úlcera duodenal, o que me dói, ah! como dói, são os músculos cardíacos onde penitenciam meus mais intensos sonhos juvenis.

Uma tristeza profunda.


Até breve!


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

PARALELOS

 

Notícia no ESTADÃO  de hoje:

A delegada Dominique de Castro Oliveira da Polícia Federal recebeu ordem para retornar ao trabalho na superintendência regional. Em mensagem enviada aos colegas nesta quarta-feira, 1º, ela disse que o sentimento é de ‘incredulidade’. “Há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada”, escreveu.

Há 16 meses, Dominique atuava na Interpol. Ela foi a responsável pela ordem de prisão do blogueiro Allan dos Santos, que foi colocado na lista de difusão vermelha da organização – sistema de alerta para captura de foragidos internacionais. Na prática, a delegada apenas recebeu o mandado de prisão expedido pelo Supremo Tribunal Federal, reviu a documentação relacionada, produziu a minuta e encaminhou o pedido para publicação.

 

CARTA DA DELEGADA:

“Acabo de ser comunicada de que a direção determinou minha saída da INTERPOL e apresentação na SR/DF. Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu.

Naturalmente, o sentimento que me invade neste momento não é o melhor. Além da incredulidade, há a forte sensação de revolta e de estar sendo injustiçada, inclusive por não ter nenhuma função de confiança na INTERPOL, nem mesmo a substituição da chefia. Porém, ao comentar minha “expulsão” da INTERPOL com um colega muito admirado, ele me devolveu a seguinte pergunta: “O que você fez de certo?”

Nos 16 meses em que trabalhei na INTERPOL fui a delegada que mais produziu, sendo que em alguns meses produzi mais que todos os demais delegados, juntos.

No recorde de prisões de foragidos internacionais que batemos esse ano, 9 de cada 10 representações foram elaboradas por mim.
Pela minha atuação no Projeto I-CAN (International Cooperation Against ‘Ndrangheta) recebi elogios do Ministério da Justiça italiano e da Secretaria-Geral da INTERPOL, em Lyon.

Mesmo com a trágica morte de meu companheiro Victor Spinelli, em maio passado, não peguei um único dia de licença médica e apenas 15 dias após sua morte trabalhei duro, entre lágrimas, para prender o número 01 dos foragidos internacionais da ‘Ndrangheta no mundo.

Isso sem falar das relações pessoais e institucionais sólidas que criei: com os adidos estrangeiros, com o STF e PGR, com as representações regionais e com os analistas do “salão”. Nunca uma pergunta ficou sem resposta ou uma demanda deixou de ser atendida por mim.

Eu tenho uma história de mais de 18 anos de atuação na Polícia Federal como Delegada de Polícia Federal, a grande maior parte na atividade-fim, como investigadora, chefe de equipe, coordenadora de operações e, principalmente, líder. Coisas que só podem ser valorizadas e respeitadas por quem sabe discernir e já fez o que é certo.”


Em linha com o post anterior, apenas para recomendar aos amigos leitores o filme: BAC Nord – Sobre Pressão, em cartaz na Netflix.

Qualquer semelhança é mera coincidência.


Até breve.