quinta-feira, 4 de novembro de 2021

SINAL

 




Recebi em casa, hoje, a meu pedido, visita de uma Corretora de Imóveis.

Estamos inclinados a transferir nossa morada para outrem que possa usufruir, enquanto viver aqui, a mesma ou maior satisfação que experimentamos ao longo de três décadas.  

A jovem, de posse de uma prancheta e de seu aparelho celular, percorreu lentamente por todos os espaços, fazendo anotações e tirando fotos.

Durante o percurso conversamos sobre o mercado de imóveis no momento, correlacionando com as características da propriedade, poço artesiano próprio, aquecimento solar, área de lazer com sauna, piscina e campinho de futebol, casinha de bonecas, gangorras, cozinha mineira com fogão à lenha, diversidade de árvores frutíferas, jardins e o belo galinheiro/coelheiro que conferem ao todo um caráter peculiar e original.

Concluída a visita técnica, na saída perguntei à corretora qual era a expectativa de realização da venda.

Notei que ela aparentava uma certa tristeza, enquanto me respondia:

- Agulhô, você conhece a história do amigo do Olavo Bilac que queria vender um sítio e pede ao poeta, que conhecia a propriedade, fizesse um relato para que ele, o amigo, pudesse anunciá-la?

- Não. Se conheço, não me lembro agora...

- Bilac, alguns dias depois, teria escrito e passado ao amigo o bilhete: "Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

- Ô, loco!

- Pois é, meses depois o poeta reencontrou o amigo e perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade.

- E aí?

- Nem penso mais nisso Sr. Bilac! Quando li o anúncio que o senhor escreveu é que percebi a maravilha que tinha nas mãos.

 

Estou quase certo de ter me equivocado na escolha da Corretora.

Ou não.


Até breve.



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