A entrada na disputa do ex-juiz e ex-ministro, esta semana, permite um olhar, a mim, revelador. A riqueza da cena confere contornos bastante nítidos do momento histórico que atravessamos, enquanto sociedade.
Não quero colocar holofotes sobre
os três apontados na pesquisa mais recente, mas na plateia que escolhe e paga
pelo enredo que eles, supostamente, uma vez eleitos protagonizarão.
Revelador não são aqueles que
se propagam como o de alma mais santa e nobre defensor dos fracos e oprimidos;
nem aquele que coloca Deus sobre todas as coisas ou ainda, e por último (ou em
terceiro), aquele herói paladino da justiça.
Revelador somos nós que os
escolhemos e, sobretudo, como e porque o fazemos.
Quais paixões nos nutrem e nos
cegam a ponto de nos tornar massa de manobras historicamente assustadoras, agora
anabolizadas por uma rede de inverdades intencionalmente fabricadas que
circulam na quinta geração de uma tecnologia com acessibilidade, portabilidade
e instantaneidade?
Ouso dizer, como analista
selvagem (desprovido de fundamentos científicos) que reside aqui nossa
patologia social. Por que insistimos no gozo da manutenção de uma sociedade sem
perspectiva, paralisada em seus dramas intermináveis?
Por que e há décadas, em que
pese todo nosso potencial e privilégios que a natureza prodiga nos faculta,
escolhemos governança que amplifica os efeitos danosos desta patologia,
reproduzindo-a e tornando-a, a cada processo eleitoral, mais perigosa?
Destruímos valores econômicos
aprofundando o fosso social, explicitamos nossa imensa dificuldade com aqueles que
de nós diferem, esgarçamos nossas relações mais íntimas, construímos muros para
diálogos orientadores, solapamos a cultura, a arte, a nossa brasilidade.
Perdemos todos com nossas
escolhas.
Há aqui sim um juízo moral do
qual não me farei isento. Estou envolvido como qualquer outro pela teia do tecido
social. Estou com Sartre quando ele escreve que não escolhemos exclusivamente
por nós, mas também por aqueles que conosco constroem o espaço de convivência.
Passa da hora de ouvirmos
zilhões de vezes, já disse isto aqui, Sol de Primavera, do Beto Guedes: “A
lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.
Até breve.
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