quinta-feira, 18 de novembro de 2021

GÊS

 



Talvez o maior dano trazido pela contemporaneidade ao humano seja quão efêmeros tornaram-se os acontecimentos. De toda e qualquer natureza. Desde as tragédias (promovidas ou não pelo homem), as descobertas (da ciência ou da arte), o tempo (todo ele).

Vide a última pandemia, ainda em curso, em declínio. Nos seus primórdios parecia algo apocalíptico, hoje algo que passou e, assim como as guerras, ceifou algumas vidas. Virão outras.

E pronto.

Não implica, mesmo (suponho) para a grande maioria dos afetados diretamente, em oportunidade de rever a dinâmica de sua própria vida. Não aconteceu nada que mereça significado.

A vida segue. Ou melhor, passa.

O contemporâneo tornou o viver, operar o tempo, desde para aqueles que precisam fazer de um tudo para se alimentar, até para aqueles mais abastados, como algo da funcionalidade.

Estar vivo é funcionar.

Viver é desincumbir-se de tarefas, mesmo a sobrevivência básica ou o deleite ostentatório.

Estar vivo é coisar-se em funções que, a cada ciclo abrupto da tecnologia, é suportado por apps, aplicativos, para os não iniciados.

Assisti recentemente, na Plataforma Fronteiras do Pensamento, conferência do Yuval Noah Harari. Para ele há evidências de que a espécie está em acelerado processo de mutação. Ainda que Sapiens, outro hominídeo. Outra espécie.

Cyborgs.

Percebo a objetivação destas evidências quando ligo a TV, este equipamento ainda rudimentar, que deverá ser substituído nos próximos anos. Ou, ainda mais amplo, o aparelho celular e seus zilhões de funcionalidades.

Tique e Toque. Zap. Zaz. Vupt.

A contemporaneidade elimina gradual e amplamente a memória, o tempo passado, a História, o conhecimento, a experiência, o vivido.

As estórias (stories) instam por 24 horas, se tanto. Aos milhões para bilhões.

Este post, ainda que um porre, apenas para dizer do impacto que tive ao assistir ontem na Netflix, ao filme O Caso Collini. 


Até breve.


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