“A literatura concorre para
uma sociedade mais harmoniosa, porque pelo texto literário você percebe que o
mundo vai além de você. Você aprende com o texto literário a democratizar a
razão.” (Bartolomeu Campos de Queiroz)
Sou grato à Vida por ter me distinguido
por inúmeros privilégios.
Entre tantos, o da infinita ignorância
é aquele que mais agradeço. Reconhecê-lo ao longo de todo o meu percurso obriga-me
a ampliá-lo a cada dia.
Li muito e pretendo continuar
lendo. A cada livro alargo o meu privilégio. Incrível como ao término de cada
leitura, sinto-me mais raso o que me estimula a buscar mais e mais saber para
não saber tudo. E ainda, assim, buscar saber.
Outro privilégio, tão
relevante como o citado, ser vitimado por acasos, no que tange à minha infinita
ignorância. Livros me chegam, como que se soubessem da minha necessidade em
lê-los. Poderia citar inúmeros episódios sem que nem porque fui instado por
parentes, amigos, outras leituras e não necessariamente correlatas.
A infinita ignorância é como sexo.
O orgasmo é um desmancha prazer. Logo, você o quererá de novo, e de novo e de
novo, e por mais que você procure, o sabor e o prazer advindo da infinita
ignorância são inenarráveis, não decifráveis, não sabidos.
Só que uma delícia
vertiginosa, a infinita ignorância.
Talvez derive daí outro
privilégio: o humor. Até meus netos não fiam em mim, quase sempre produzo
pilhérias de um tudo. Fosse a um analista, colocaria no divã a minha avó
materna como culpada. Diante de conflitos domésticos acalorados ela sempre saía
com: “Não sei porque brigam tanto se pra lá nós vamos.”.
Desde sempre, portanto, o
humor serviu-me como um bálsamo. Sobretudo na infância, dada à penúria familiar
e a dura vida de minha mãe. Eu gostava de imitar os humoristas da TV e do
cinema. Ronald Golias, Ivon Curi, Cantinflas, Mazzaropi. Ela ria, ria, ria tanto que por
diversas vezes saiu correndo urinando pelas pernas abaixo, de tanto rir. Fazê-la
rir foi sempre, em casa, o melhor remédio.
De quem rio mais é de mim
mesmo, inclusive agora, por este texto. A minha tolice em acreditar que se aceitássemos
todos a nossa infinita ignorância e ampliássemos o nosso senso de humor, talvez
faríamos um sexo coletivo transbordante.
E a Vida teria mais sabor.
Até breve.
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