sábado, 29 de maio de 2021

CAPITALÍSSIMOS

 


Compartilho e solidarizo-me com a Joana Leuenroth Hime, quando, em sua página publicou post manifestando sua intenção de sair do FB.

Joana escreveu: “O motivo pelo qual saí é que nunca consegui fazer a tal roda girar. Os dígitos teimosos só me permitem ver de 15 a 20 amigos. Tento, pois, pela última vez, rs. basta você me enviar um oi, ei, ui, ai, pode ser um grunhido também, ou o velho coração. Me ajuda a pôr esta bodega para andar? Grata.”.

Ela se refere, como todos sabem, a engenhoca que tomou para si o poder absoluto do Senhor dos Acasos e estabelece por mecanismos sabe-se lá quais a quem você estará exposto e quem circulará pelas veias de sua tela.

Cantora e poeta, filha do Francis e da Olívia Hime, ela esperava encontrar mais eco para poder dar a conhecer seu atual projeto (Entre Ventos) que mescla voz- música; voz- poesia.

Duro viver de arte. Não há artista sem público.

Pois eu acho que todo artista tinha que ter um ganha-pão por fora, um trem para se manter e pagar os boletos. Tipo o precursor da aviação e aeronáutica, o cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, arquiteto, botânico Leonardo que, entre ventos, pintou a Mona, legado definitivo à Humanidade.

A Arte não devia ser remunerada, paga com moeda circulante. Ninguém deveria viver de arte, mas pela Arte, para poder torná-la franca a zilhões de almas sedentas.

Drummond era servidor público, Vinicius embaixador. Chico, Caetano e Gil deveriam eram ser, na roda, engenheiro, administrador, economista, estas profissões de mercado.

E enquanto marginais, que devem ser os produtores de Arte, lotarem estádios despandêmicos, com entrada gratuita para todo tipo de gente na terra do sol. E, como defendem Juca de Oliveira e Taumaturgo Ferreira, artistas não deviam demandar grana do Estado para financiar seus projetos.

A Arte para ser a melhor expressão da pureza precisa ser transgressiva e não parte da roda. Ela precisa ser Outra Coisa, fora do eixo, fora da lógica, imune, limpa, maior, que nenhum vil metal seja capaz de bancar ou macular.

Apenas como exemplo, correndo o risco de dar testemunho equivocado, acho que a iluminadora de labirintos do inconsciente, Paula Vaz, ganha vida com suas luzes divânicas e, entrementes, poemisa ao Deus-dará.

Eu mesmo, tenho essa vida clandestina. Da escova de dente a viagens milionárias mundo-a-fora custeei com grana extraída da minha profissão segundo as convenções sacrossantas da roda.

Se bem que, no meu caso, eu não posso reconhecer-me artista. E não sou louco de declarar-me como tal. Na infância, minha mãe colocava-me de cara para parede quando eu fazia arte.

Até breve.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

DEMOCRORGIA

 



“Alguns generais interpretam a política como orgia. São os neocínicos.”

Isto em manchete de chamada para a crônica de Opinião no Estadão do Fernando Gabeira é uma evidência quase incontestável que vivemos uma democracia.

Fosse há décadas atrás... Gabeira, anos mais tarde, não teria vestido sua tanga de crochê.

Ou, por outra, vivemos em estado de orgia?


Até breve.



quinta-feira, 27 de maio de 2021

NÉBULA

 

“Ser revolucionário hoje é ser capaz de criar uma identidade própria. Diante da massa, do engodo, do embuste como ser seletivo e escolher-se no universo de possibilidades”. (Adriana Varela)

“A política tem de ser entendida não pela racionalidade do ser humano, mas pela natureza humana, da qual a razão é apenas uma parte, e de jeito nenhum a mais importante”. (Hans J. Morgenthau)

 

Arendt, filósofa judia alemã, convidada a cobrir o julgamento do “criminoso do século” Adolf Eichmann, produziu um relatório controverso que levou a inúmeros protestos semitas inclusive de seus amigos próximos que romperam com ela laços de amizade de anos.

Para Arendt, Eichmann era um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal. Não era um monstro, mas sim uma pessoa normal, medíocre, cujo grande defeito de caráter era não pensar por si próprio, o que o transformara em um joguete, um palhaço que seguia a lei – independentemente de suas consequências.

Hannah Arendt não estava desculpando torturadores, estava apontando a dimensão real do problema, muito mais grave. O texto de Hannah, apontando um mal pior, que são os sistemas que geram atividades monstruosas a partir de homens banais, simplesmente não foi entendido. 

O perigo e o mal maior não estão na existência de doentes mentais que gozam com o sofrimento de outros, mas na violência sistemática que é exercida por pessoas banais. 

“A Banalidade do Mal”, livro escrito por Arent a partir de suas reflexões tiradas do julgamento de Eichmann, parece ainda intensamente presente em nossa sociedade cada vez mais tomada por burocratas e por pessoas que dominam a arte de não pensar. É preciso tomar cuidado. Fantoches podem levar milhões à morte. 

Pode até haver um torturador particularmente pervertido, tirando prazer do sofrimento, mas no geral, são homens como os outros, colocados em condições de violência generalizada, de banalização do sofrimento, dentro de um processo que abre espaço para o pior que há em muitos de nós. 

O que deve assustar no totalitarismo, no fanatismo ideológico, não é o torturador doentio, é como algumas (e não poucas) pessoas são puxadas para dentro de uma dinâmica social patológica, vendo-a como um caminho normal. 

“Cada período é, ao mesmo tempo, um jardim e um cemitério, onde vêm coexistir os produtos exuberantes da seiva renovada, as plantas enfezadas que não querem morrer, a ossaria petrificada de gerações perdidas”. (Antônio Candido) 

Talvez por isto, neste momento, eu esteja tão centrado nos jardins de minha morada e em meus netos. 

Residem ali outros brotares. Ou não haverá esperança?


Até breve.

 


quinta-feira, 13 de maio de 2021

RECAÍDA II

 


Perdoem-me. Hoje não publico historinhas e nem alvoreceres deslumbrantes em minha morada. Se posso sugerir, pulem esta página.

“Melhor morrer de vodca do que de tédio”. A frase esteve publicada como uma das ‘citações favoritas’ na página do FB do estudante Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, que morreu, há cinco anos, depois de consumir de 25 a 30 doses de vodca durante uma festa da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp).

A frase em questão foi cunhada pelo poeta russo Vladimir Maiakovski. Está na página de Humberto logo acima de outra, "A ciência sem religião é coxa, a religião sem ciência é cega", do alemão Albert Einstein.

...

O mundo não está para calouros. Os veteranos não suportam a ideia de que algo de novo sobrevenha. Em todas as dimensões da Vida ela se mostra coxa e cega. O tédio, não é o tédio derivado do ócio ou da desesperança, ele deriva da absoluta impossibilidade de furar a barreira imposta pela avalanche disforme da modernidade.

Estamos sendo dragados por “monstros” imperceptíveis que ocupam sorrateira e cruelmente nosso cotidiano, vitimando valores, crenças, conceitos, nossas criações artísticas, nossa cultura. Nossa Vida.

Nossa realidade não tem nada de rala. Ela é cada vez mais densa, brutal e banal. Não há nela nada que signifique e aí reside a sua densidade. Nada é e tudo é, portanto tudo é nada.

Encontrar-se sempre foi a ventura humana. E hoje, aventura de blade runners, ensandecidos a procura de um autor. Nos falta autoridade para que possamos encontrar nossa alteridade.

Até Deus perdeu sua Forma.

A Verdade Imoral, dita ontem por dois deslustres representantes da escolha coletiva, em território em que se debate o que nos mata às centenas de milhares, não constará dos anais.

Faz de conta que não aconteceu.

Entre o coma etílico e o tédio, opto por ilusões nada tóxicas.

Morrerei de Amor.


Até breve.