O ex-presidente, em seu
discurso de abertura da campanha para as eleições de 2022, fez menção ao ano de
1978 quando ocorreram greves históricas, entre elas a de Contagem.
Na verdade, de Betim. À época
eu era Gerente da Área de Salários e Desenvolvimento Organizacional da Fiat
Automóveis. Fiz parte da equipe responsável pela administração e negociação
junto aos empregados e sindicato para o encerramento do movimento paredista e o
retorno ao trabalho.
Eu tinha 23 anos e reputo esta
experiência como uma das basilares na formação da minha competência e do meu
caráter como executivo. Lembro-me da morte de um dos operários, vítima de
atropelamento acontecido no trevo da Fernão Dias. Os operários faziam piquete
ao longo de toda a extensão de entrada da fábrica.
Na década de 80, também como
executivo, estive a frente de inúmeras negociações sindicais no setor
siderúrgico e de mineração, entre elas uma para mim histórica. Vivi uma greve
de ocupação em um terminal marítimo, com lideranças sindicais fazendo ameaças
contra os negociadores da empresa, inclusive de morte.
Tempos quentes aqueles.
Vivi, por força do meu papel
(negociador patronal), momentos riquíssimos do lado de dentro da história do
país. Convivi com pessoas extraordinárias, líderes sindicais e intelectuais que
buscavam o advento de um tempo de pacificação, harmonização e desenvolvimento
de relações sadias entre o capital e o trabalho.
Sentei a mesa de debates, país
a fora, com as maiores lideranças de ambos os lados, fosse citá-las aqui teria
que escrever um livro e decidi não o fazer.
Experimentei uma emoção imensa
quando fui convidado a participar de um ciclo de palestras no recém inaugurado
(julho de 1986) Instituto Cajamar o grande centro de formação e capacitação
política das principais lideranças sindicais, partidárias e de movimentos
sociais da esquerda brasileira.
Sempre acreditei que uma
sociedade igualitária e plural se faz com o exercício do diálogo. Claro que fui
alvo de inúmeras ofensas de ambos os lados, quando convinha a um ou a outro.
No início da década de 90 tive
o privilégio de atuar como executivo de um banco estatal e, da mesma forma,
representei o banco em inúmeras negociações e eventos relacionados ao tema.
Depois, segui minha carreira
como professor, consultor e conselheiro, não mais me envolvendo diretamente em
negociações sindicais. A partir dos anos 2000, deixei a carreira de professor e
passei a me dedicar exclusivamente às atividades de consultoria e conselheiro.
Onde vai dar este currículo e
o que tem a ver com o ex-presidente. Tudo, porque os anos de vivência como
negociador justificaram, anos seguintes, a minha decisão de escolher o
candidato ícone de representação daqueles que se colocavam do outro lado da
mesa em que eu me sentava.
Era necessário que se
permitisse a chance histórica de promover mudanças estruturais que
possibilitassem um melhor equilíbrio de forças entre capital e trabalho para
que o país experimentasse um novo ciclo de desenvolvimento.
Votei três vezes na maior
liderança sindical do país e, confesso, convicto que viveríamos um tempo de
graça.
Nos últimos quase trinta anos
como professor, consultor e conselheiro, atuei em todos os seguimentos da
economia no Brasil, participando de projetos de desenvolvimento de executivos e
acionistas.
Eu, como todos que viveram
experiências semelhantes à minha, conheço os mecanismos complexos da dinâmica
de negócios, especialmente relacionados às grandes companhias.
Sob a governança do
ex-presidente sabemos todos quão estarrecedores foram estes mecanismos. A
melhor expressão disto é um comentário de umas das lideranças do partido
formada em Cajamar: “Nós nos lambuzamos demais.”
Embora os anos não tenham
tirado de mim a alma juvenil, o ex-presidente matou um dos meus melhores
sonhos.
Até breve.
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