“Se o princípio era o verbo na
verdade fez-se em verso a oração,
E o poema virou Verbo e
habitou entre nós.
Então, poeta?”
Este é um trecho da canção
Liderança, de um fraterno amigo Dennis de Lima e Souza, com quem, eu e outros,
nas priscas eras dos corredores da Fafich, tramávamos um tempo de luzes.
O que fizemos com as palavras?
Por que elas se tornaram tão perigosas, quando as usamos para “classificar”
alguém? Por que reduzimos a riqueza da amplitude, especialmente das nossas
palavras, do nosso imenso e admirável idioma, repleto de possibilidades de
interpretações?
Poéticas.
Por que tamanho ódio,
provavelmente, resultante da cegueira, do reducionismo, da perda de identidade,
vontade própria, persona?
Por que não olhar para as
palavras e redescobri-las, resignificá-las, para que seja possível um outro
diálogo?
Por que discussão (discos são)
e não diálogo (através de significados)?
Cancelamento? Exclusão?
Lacração?
O que fez conosco a História,
enquanto atores coadjuvantes de óperas bufas, tragicomédias, filmes de terror e
suspense?
Assumimos o lugar de
protagonistas, colando-nos em enredo que não fomos nós que o redigimos, pelo
menos diretamente, senão pela via do nosso desespero e impotência.
Passamos a usar palavras
“através de” e não “a partir de”. Repetimos um discurso que nos insere em massa
amorfa, construindo uma realidade obtusa e miserável, quase endêmica.
É passada a hora de nos
descobrir a partir de cada um, em todo o esplendor. Com nossas convicções as
mais carregadas de dúvidas possíveis já que o tempo é diverso, amplo,
irrestrito.
É hora não de egos, superegos,
ou ids, mas de personas.
Até porque a palavra
indiviDUAL, olhe para o final dela, as suas maravilhosas quatro últimas letras,
grita para que a gente OLHE com nossas retinas mais puras, limpas,
descensuradas para o Outro que nos assusta.
Há outra palavra, belíssima,
que quando a soletramos pausadamente como fazem as crianças, porque não
compreendem o seu significado, nos transformamos: DI
VER GENTE.
Olhe, há um verbo que se fez
carne e está entre nós.
Esse Outro, que amamos e
deixamos de amar, cancelamos, excluímos, lacramos.
Por quê?
Até breve.
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