Há meses, pandêmicos, que
tenho postado no FB imagens de minha morada e, a partir delas, tentando falar de
minha melancolia radical.
A necessidade de criar um
espaço possível da vida e da Vida Boa, no sentido de um espaço de tempo de
permanência em que dele se retire um sentido, uma razão.
Além de buscar sentido, neste
privilégio que é estar vivo, buscar algo que verdadeiramente sirva como um
legado à posteridade. Dai a razão pela qual meus netos, atores coadjuvantes à
minha morada, também aparecem aqui com frequência.
A maturidade aprofunda a compreensão
aguda de minha insignificância, na dimensão de um “qualquer-outro” que se
manifesta no contexto em que todos gritam e nenhum verdadeiramente escuta.
Além de ar, falta eco.
Nunca tudo foi tanto e nesse
tanto sobretudo o mal. De tanto, banal.
A morte em vigor é vigorosa
sobretudo porque solitária. Imenso lamento que resulta do impedimento daqueles
que ficam sem poder estarem presentes no momento do desenlace daquele que se vai.
Elaboramos este hiato
histórico dentro de uma perspectiva otimista. Que esse tempo se acabe, que tudo
voltará a assemelhar-se ao que era. Complicado aceitar a ideia de que este seja
o novo locus de vida no planeta.
Uma vida exposta ao mal
incontrolável, que se agiganta em diversas manifestações.
O primeiro óbito por covid em
BH (março de 2020) foi o de uma tia de minha esposa. Ela foi cremada e suas
cinzas guardadas. Um de seus filhos, acompanhado pela família, passou conosco a
noite de Natal.
Na manhã do dia 25, em ato
solene, depositamos parte das cinzas de Marlene sobre jardins ao lado de uma
majestosa palmeira que sombreia a entrada de nossa morada.
Foi ela, Marlene, quem há mais
de duas décadas nos presenteou com a mudinha que hoje ultrapassa a 15 metros de
altura.
Até breve.
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