segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

PALMEIRAS

 


Há meses, pandêmicos, que tenho postado no FB imagens de minha morada e, a partir delas, tentando falar de minha melancolia radical.

A necessidade de criar um espaço possível da vida e da Vida Boa, no sentido de um espaço de tempo de permanência em que dele se retire um sentido, uma razão.

Além de buscar sentido, neste privilégio que é estar vivo, buscar algo que verdadeiramente sirva como um legado à posteridade. Dai a razão pela qual meus netos, atores coadjuvantes à minha morada, também aparecem aqui com frequência.

A maturidade aprofunda a compreensão aguda de minha insignificância, na dimensão de um “qualquer-outro” que se manifesta no contexto em que todos gritam e nenhum verdadeiramente escuta.

Além de ar, falta eco.

Nunca tudo foi tanto e nesse tanto sobretudo o mal. De tanto, banal.

A morte em vigor é vigorosa sobretudo porque solitária. Imenso lamento que resulta do impedimento daqueles que ficam sem poder estarem presentes no momento do desenlace daquele que se vai.

Elaboramos este hiato histórico dentro de uma perspectiva otimista. Que esse tempo se acabe, que tudo voltará a assemelhar-se ao que era. Complicado aceitar a ideia de que este seja o novo locus de vida no planeta.

Uma vida exposta ao mal incontrolável, que se agiganta em diversas manifestações.

O primeiro óbito por covid em BH (março de 2020) foi o de uma tia de minha esposa. Ela foi cremada e suas cinzas guardadas. Um de seus filhos, acompanhado pela família, passou conosco a noite de Natal.

Na manhã do dia 25, em ato solene, depositamos parte das cinzas de Marlene sobre jardins ao lado de uma majestosa palmeira que sombreia a entrada de nossa morada. 

Foi ela, Marlene, quem há mais de duas décadas nos presenteou com a mudinha que hoje ultrapassa a 15 metros de altura.


Até breve.




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