sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

FORD

 


O que todos queremos FORA?

Fora DILMA, fora TEMER, fora BOLSONARO.

O que todos queremos DENTRO? Bem entendido, claro.

As eleições de 2018 nos serviram para exercitar estas perguntas. Não escolhemos, pela maioria, o que queríamos DENTRO. Optamos por sair FORA de quem não queríamos.

Milhões votaram num para não ter o outro. Milhões votaram no outro para não ter o um.

Votos por “conhecer” de fato os programas dos candidatos para o país (se é que existiam), votos de posicionamento político real, foram poucos. Milhares, talvez.

Há muito a manada comanda, especialmente agora com a proliferação da idiotia eletrônica que dá acesso democrático voluptuoso aos imbecis (vide Umberto Eco).

O que nos sobra? O que está aí, naturalmente. Uma massa amorfa de ações destrambelhadas, descoordenadas, inconsistentes, e, algumas, até criminosas.

Como querem os FORISTAS de plantão. Há crime de responsabilidade no borça (não é palavrão meu não, existe no Aurélio) de plantão.

Vamos para o debate histérico, estéril e sobretudo terrivelmente oneroso à riqueza do país (de todas as naturezas) já tão esfaceladas nas últimas décadas.

Talvez Freud explique por que “criamos” estas figuras vulneráveis ao nosso patológico desejo de “botar para fora”. Cada um, mais suscetível de manobra perversa.

A miséria cultural aprofunda-se de maneira apocalíptica, amplificando a proliferação de imbecis, tornando inexpugnável a crosta da ignorância (aqui, tanto de ignorar quanto de brutalizar).

Haverá vacina para a COVID 19, 20 e outras tantas endemias. O Homem nunca foi capaz de criar um problema que não tenha sido capaz de resolver.

Quanto à nossa idiotia, eu acredito na fatalidade histórica. Haverá de advir algo extraordinário que rompa com este obscurantismo demoníaco.

Eu acredito no Deus de Suassuna. “A maior prova da existência de Deus é que não é possível que possa ser só o que está aí.”.


Até breve.



terça-feira, 12 de janeiro de 2021

ESQUÍVOCOS

 



Este texto vai para todos aqueles que acompanham a minha carreira futebolística de quase uma década. E para os recém-chegados que, incautos, acham.

Seja aqui ou no Facebook bati uma bolinha quase diária, mais no início, depois, com o passar das pelejas, rariei. Hoje, aqui, quase não jogo.

O jogo ficou ruim, sem graça, chocho. A bola ficou quadrada, ou fui em quem desenvoquei, no sentido de ter perdido a vocação para despalavrear nas quatro linhas.

A carreira vem de décadas, mas de fato saí-das-gavetas só agora nos sessenta, quando veio Liz, aquela flor. Foi um golaço, de placa, daqueles de driblar tudo e todos e jogar lá onde a coruja dorme.

Teve uma época, depois de eu me apresentar com as infâncias, passei a atacante na puslítica, batendo da medalhinha pra cima, mandando cartas diretas para palácios, os cambau. Nenhum deles ficou ileso. Chamei todo mundo pro jogo.

Joguei sempre limpo, embora duro. A pobre senhora, que tomou cartão vermelho sem VAR, o Homem-mais-puro-do-mundo, o Verdugo, até esse daí para quem não consigo fazer nenhuma embaixadinha de dois.

De repente destransei, chutei o balde e disse esafof pra puslítica.

Coloquei em campo meu repertório de jogadas sofríveis com contículos, poemóticos, uns lancezinhos sem pé-nem-cabeça, que nem eu próprio entendi.

Aí veio a pandemia e zimbrolhiou tudo, mas ao mesmo tempo, me jogou na várzea, campo aberto que você pode dar chutão que não tem vizinho.

Entrei de sola em reforma da morada, caramba como foi bom e importante esse ensimesmamento compulsório, compulsivo e compassivo. Ninguém pode polemizar com os meus intestinos. Minha morada, meus netos, minha vidinha desinteressante.

Aqui toda hora pinta um lance, tipo jardins, pomares, luares, ilustrados com palavrinhas singelas, toscas... Quem curte viaja como alienes.

E os netos, minha jogada com tabelinha mais extraordinária e que ficará nos acervos mais relevantes de minha carreira? Ninguém mais dá conta.

E teve gente aqui que deve ter achado que meu jogo tem a ver com a exposição da morada e da felicidade com os netos, apenas.

No fundo, gol mesmo, seria aquele que levasse a pensar. Tipo eu com a construção do galinheiro. Fiz pros galináceos um chalé-de-montanha, com ar refrigerado, comida do bom e do melhor, vista para a mata, para que seus carcarejares ecoassem no silêncio madrugada adentro.

Dentro do galinheiro sete cochos com relva quentinha e aconchegante para a bota dos ovos. Entreguei tudo de bandeja com a maior dedicação e carinho.

Elas? Botam hoje, fora do galinheiro. Furaram um imenso buraco debaixo de um viveiro para pintinhos e botam ali, como se me dissessem: “Eu sei o que eu quero.”.

É nisso que dá um sujeito que não conseguiu se definir na carreira.


Até breve.