domingo, 20 de dezembro de 2020

ESCOLHA

 



Amar intensa, deliberada, revolucionária e ideologicamente.

Amar a si acima de todas as Coisas, para dar o melhor de si a cada um como se este fosse único, mesmo que por tanto e de tanto amar não se com prenda.

Amar alguém de todas as maneiras e fazê-la ponte para cruzar toda uma vida. Amá-la da adolescência à decrepitude, gastando de si toda a energia e potência.

Amar os frutos deste Ato, todos eles e a cada um.

Amar ainda o inominável apesar de todas as circunstâncias contrárias e guardar para todo o sempre.

Amar o trabalho, amar a milhares de pessoas que por ele passaram e levaram todo o melhor do que dele resultou.

Amar cada milímetro de sua morada, cada barro, tinta, grama. Cada flor. Amar cada parte daquilo que se edificou como um gesto de humanidade e nunca de fasto.

Amar a terra sobre qual edificou esta morada, ainda que de suas entranhas saiba tão pouco, amando o extraordinário mistério do que lhe germina.

Amar o pomar atras da morada, sua macieira, pereira, laranjeira, limeira, limoeira e, especialmente, amar o que se produziu de uma sementinha trazida de Elche na Catalunha à beira do Mediterrâneo, dos fundos da casa do avô paterno e torná-la exuberante árvore que desabrocha seus primeiros frutos. AMEIxa.

Amar seus antepassados e fazer fluir o prolongamento no sangue da essência de uma história humana particular e universal.

Amar a escrita, através da qual busca inscrever-se.

Amar a letra, a música, a melodia, a harmonia, o som.

Amar o silêncio.

Amar a solidão profícua, a existência, o tempo.

Amar a poesia, o simbólico, tornando-a veículo em que se embarca a Vida.

Amar sobretudo e sobre tudo o direito e a liberdade de só amar.


Até breve.


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