Estou
em um resort no litoral baiano. Diante da minha solidão e do silêncio ondular
do mar.
Ontem,
quando vinha para cá, cruzei na sala de embarque do aeroporto com uma jovem
trajando uma camiseta preta com uma inscrição em letras brancas todas
minúsculas: deleting...
Posts
atrás, comentando sobre o filme Vidas Duplas, escrevi sobre a desmaterialização
do livro, objeto físico.
Não
me parece que o inevitável esteja na digitalização do livro, já que o projeto ebook deu água. A versão digitalizada
não emplacou. Não é o book, em qualquer idioma, que se desmaterializa.
O
que parece estar em curso é a desmaterialização da massa crítica, suponho.
Aquela que se forma pela química e fisiologia neural que advém da absorção do
emaranhado sofisticado de letras, encontradas há séculos, exatamente neste
objeto em estado de obsolescência.
A
tecnologia suplantou a compreensão. Não há necessidade de elaboração de
interpretações a partir de textos sinuosos. E ninguém mais tem paciência e
tempo para debruçar sobre páginas e paginas.
Nada
mais demodê do que uma biblioteca,
palavra incrustrada em traças.
Textões
não fazem parte da curtição. Ou imagem ou vamos direto ao ponto. Papo cabeça é
porre duplo. O que cola, e como cola, é o simplório dos influencers, célebres descerebrados que arrastam opiniões de
superfície.
O
que desmaterializa é a consciência do sujeito tirando dele sua capacidade
crítica do real. Pasteuriza-se a dúvida (indispensável) e industrializa-se a
resposta.
Estou
pensando em fazer um silk na cor azul em camiseta branca com a inscrição: saving...
Até breve.
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