quinta-feira, 29 de outubro de 2020

FOSSO

 


Dos últimos meses, sobrevivo a quatro afastamentos.

Todos eles por minha e exclusiva responsabilidade. Eu poderia, eu deveria e se fosse hoje, estou certo, eu gostaria de tê-los evitado.

Não é uma questão de ligar o celular ainda que eu tenha o número de todos os envolvidos e eles o meu.

Meus atos não foram condizentes com o meu discurso, antes pelo contrário. Expuseram o pior de mim, que conheço. O que os amplifica e agrava.

“Falar” aqui sobre isto ainda sinaliza uma estranheza, própria de mim, mas é que todos sabemos que “este lugar” acolhe nossas partes mais dúbias, inconfessáveis, verniziantes.

Tenho convivido comigo com certa reserva, não que eu me cobre um perdão impróprio, descabido e sem efeitos naqueles que marquei. A coisa é comigo e, por extensão, com todos que me leem.

O que fazer com a pior parte de nós? Levá-la à um analista? Conscientemente?

Operar a culpa pela reminiscência familiar, deixá-la lá nomeando-a, classificando-a, pacificando-a deliberadamente...

Saber-se de porquê.

A pandemia acendeu lanternas com raios fulgurantes de sóis em ocaso.

Incendiaram a minha besta interior, ainda que ali dentro more uma lâmpada cruelmente apagada, desenérgica.

Todo um mistério.


Até breve.

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