Somos alicerçados em dois pilares: tempo e espaço.
Fui,
sou agora e serei: tempo. Aqui, lá, acolá: espaço.
Todo o
viver sustenta-se nestas duas perspectivas. Nos estruturamos a partir daí.
Qualquer alteração em uma ou noutra pode nos afetar de forma significativa.
Todo e
qualquer deslocamento no tempo e/ou no espaço implica.
O domínio
de ambos nos apazigua, o descontrole nos angustia. A vida inteira viver é ter
um certo controle: do tempo e do espaço.
Provavelmente
nenhum de nós experimentamos um impacto tão expressivo como aquele trazido pela
atual pandemia. Ela nos desestruturou a todos, uns mais outros menos, mas todos
fomos impactados.
A
ponto de entendermos que, passada, voltaremos ao “normal”. Ou seja, teremos o nosso “tempo” e o nosso “espaço” de volta.
A
pandemia obrigou que nos distanciássemos, tirando o hábito de nosso trânsito
comum e cotidiano. Ela nos circunscreveu, a muitos de nós, exclusivamente a nós
mesmos: em nossa solidão, quase que nos vimos restritos ao nosso interior. Espaço
físico em nós, o mais reduzido e, paradoxalmente, o mais amplo.
Fomos
lançados, de uma hora para a outra (tempo), para a restrição de nós mesmos
(espaço).
Muito
de nós redescobriram cômodos, cores, odores, defeitos e tudo o mais que, até
então, haviam se incorporados a paisagem do nosso dia-a-dia em nossa morada. Olhamos
para nossa morada como outra. Nos descobrimos em “outro espaço”.
- “Meu
Deus, eu nunca tinha reparado isto...”
Da
mesma forma que fomos impactos na dimensão de espaço também o fomos na do tempo
e, por força disto, a tudo o que ele nos remete no que tange as nossas operações,
até então, de rotina.
Estamos
expostos a mais tempo com nossos mais próximos o que, se para alguns é uma
tremenda oportunidade e desejo, para outros pode ser desgastante e angustiante.
Companheiros
de vida, filhos, netos, parentes outros, resvalam-se em nós nos quartos, nos
corredores, disputam a hora do banheiro, o canal da TV, o pedaço do frango. O
silêncio, a música, a janela aberta ou fechada. A voz alta, o pano, o rodo, o
sabonete. A toalha. Tudo afeta.
O
distanciamento nos impôs a ilusão de presença objetiva em telas tecnológicas. Nossos
conflitos corporais foram minimizados e perdemos o perfume dos outros. O toque, o beijo, o afago e até a agressão foram suprimidos.
Todo o
amor e todo o ódio vacilam.
Não
somos feitos para a ausência e nem para a distância de outros. Sem um outro
perco a minha referência, o espelho por si só não me revela. Eu sou com o
outro.
A
morte é a perda absoluta. Antes dela, não há angústia maior do que a perda da
liberdade.
Eu queria
HOJE pegar um avião, ir a LAGES-SC e buscar Liz e Valentin para verem o
galinheiro que, nas últimas duas semanas, estou construindo. Eles não terão que
NUNCA MAIS, quando estiverem aqui, irem com Totô e Lelê visitarem o sítio do
meu vizinho.
Até breve.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante seu texto e verdadeiro, e muito bom foi sua volta no Facebook , onde diariamente voce alegra seus leitores com diálogos lindos entre seus netos. Parabéns, por tornar essa pandemia mais leve . Um abraço.
ResponderExcluirTenho sido agraciado por amigos que comigo se propõem a superar o momento que atravessamos com alguma esperança em tempos melhores. Você, desde sempre, tem sido uma das pessoas que de forma carinhosa e permanente incentivam esta proposta. Muito obrigado. Afetuoso abraço.
ExcluirAgulhô, que inveja saber transformar tamanha sabedoria em um texto tão simples e belo.
ExcluirAbraço