domingo, 21 de junho de 2020

PAISAGEM



A foto ilustra uma tese.

O feio e o burro incorporaram-se, de há muito, à paisagem.

Primeiro, o feio. Reparem: o ambiente macro não nos encanta, antes pelo contrário, nos avilta. Mais de cinquenta mil vidas ceifadas, mais de um milhão de infectados, perspectiva de rebote, catatonia social, quase um trilhão de reais de custo pandêmico (incluídos aqui os pedágios da endêmica e centenária corrupção), perspectiva de queda de 8% do PIB, cem milhões de pedintes desnudados a procura de auxílio.

Liderança da sociedade civil ausente ou inexistente, governos absolutamente desconectados da realidade objetiva, instituições sufocadas por burocracias auto defensivas e incapazes de produzir diálogos que remetam a saídas. Aliás, com que interlocutores?

Redes sociais produzindo calor, nada de energia. Reducionismo bestial, cegueira, surdez, idiotia. Obscurantismo.

O burro, na foto. A rua é em declive e a saída de água pluvial em dois tubos de 100 milímetros está abaixo do bueiro, desaguando sobre a calçada. Obra de uma residência recém-concluída que fica no caminho para a minha casa.

Sempre que passo por esta casa, me entristeço porque ela me escandaliza. É tão óbvia a arquitetura e engenharia para dar conta de funcionalidade e estética mais apresentável da fachada da residência.

Durante as obras pensei até de parar meu carro e sugerir ao responsável que passasse o tubo antes do muro da fachada e o estendesse sob a calçada até dentro do bueiro. Óbvio, não é?

Achei que não deveria fazê-lo, cada qual é cada qual. De repente o meu senso estético e a minha suposta e engenhosa inteligência é que estão equivocadas.

Assim como bueiros, tubos e águas são as coisas.

Algumas vezes passei por esta residência com algumas pessoas e apontei para o primor de calamidade. Para surpresa e espanto, a grande maioria me respondeu:

- Qual o problema? Não consigo ver nada.

Dramática paisagem.


Até breve.


Um comentário: