O
feio e o burro incorporaram-se, de há muito, à paisagem.
Primeiro,
o feio. Reparem: o ambiente macro não nos encanta, antes pelo contrário, nos
avilta. Mais de cinquenta mil vidas ceifadas, mais de um milhão de infectados, perspectiva
de rebote, catatonia social, quase um trilhão de reais de custo pandêmico
(incluídos aqui os pedágios da endêmica e centenária corrupção), perspectiva de
queda de 8% do PIB, cem milhões de pedintes desnudados a procura de auxílio.
Liderança
da sociedade civil ausente ou inexistente, governos absolutamente desconectados
da realidade objetiva, instituições sufocadas por burocracias auto defensivas e
incapazes de produzir diálogos que remetam a saídas. Aliás, com que
interlocutores?
Redes
sociais produzindo calor, nada de energia. Reducionismo bestial, cegueira,
surdez, idiotia. Obscurantismo.
O
burro, na foto. A rua é em declive e a saída de água pluvial em dois tubos de 100 milímetros está abaixo do
bueiro, desaguando sobre a calçada. Obra de uma residência recém-concluída que
fica no caminho para a minha casa.
Sempre
que passo por esta casa, me entristeço porque ela me escandaliza. É tão óbvia a
arquitetura e engenharia para dar conta de funcionalidade e estética mais
apresentável da fachada da residência.
Durante
as obras pensei até de parar meu carro e sugerir ao responsável que passasse o
tubo antes do muro da fachada e o estendesse sob a calçada até dentro do
bueiro. Óbvio, não é?
Achei
que não deveria fazê-lo, cada qual é cada qual. De repente o meu senso estético
e a minha suposta e engenhosa inteligência é que estão equivocadas.
Assim
como bueiros, tubos e águas são as coisas.
Algumas
vezes passei por esta residência com algumas pessoas e apontei para o primor de
calamidade. Para surpresa e espanto, a grande maioria me respondeu:
-
Qual o problema? Não consigo ver nada.
Dramática
paisagem.
Até breve.
Também gosto do Germinal.
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