sexta-feira, 15 de maio de 2020

AQUIVOCO (*)





Desentubado sigo.

A primeira palavra deste post está, na minha página, sublinhada pelo computador. Ela não existe nos conformes.

Nunca a palavra disse tanto e tão pouco. Nunca ela foi tão usada como nos tempos presentes. Seus alaridos misturam-se às tensões e dores, tanto os impressos quanto os visuais e auditivos.

A palavra domina. Os meios de veiculação são avassaladores e todos, com intenção deliberada de persuadir, seduzir, conquistar, mobilizar, dominar. Mesmo que tortas, fora dos conformes, gritam.

O ambiente é palavrado.

Um dia, qualquer, poderá advir um vírus que tire do Humano a palavra, se não for este que nos ronda e que, além da palavra, nos aquieta, confina e silencia, nos mata.

É urgente calar. É premente ouvir e ouvir-se.

Re(colher) aos intestinos, em colheradas.

Re(escrever) outras palavras em outras letras.

Re(visar) com outras íris, intensas.

Re(descobrir) o já dito, nos clássicos.

Refletir.

O que nos valeu chegar até aqui? O que de fato, falamos, com este falo? Que discurso constituiu a figura humana? Que palavra ainda resta dita?

Cálice. Cale-se.

Embebeder-se do silêncio e sorver o vazio. Esperar. Não haverá nada, ou o Nada. Pre(enchido). Só o homem sente. E fala.

Juro que não era o que eu queria.

Perdoe-me.

Volte.

Você é TUDO!

Eu te amo.

...

Parece que era isto.



Até breve.
(*) Aqui (voco): neste lugar eu falo. Equívoco: aqui me traio.

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