Durante
o carnaval fui privilegiado pela convivência plena com os netos. Os quatro,
inclusive aqueles que vivem distante, lá em Lages/SC, que preferimos chamar de
longes.
Lelê,
a menorzinha dos quatro, contraiu um vírus. Gripou. Com febre e o corpinho ruim
ela perdeu muito de sua serelepidade, mas ainda assim manteve sei jeitinho Lelê
de ser.
Numa
das noites, na verdade madrugada, a febre subiu e a avó achou por bem de dar um
banho mais para frio. Jamais vou esquecer Lelê saindo do box do banheiro
enroladinha na toalha, com a toca na cabeça e com seu sorrisinho maroto:
-
“Qui frio”!!!!
Desde
sempre a adversidade compôs a realidade. E como em tudo, cada um de nós reuniu,
ao longo da vida, mecanismos próprios ou importados de outros para fazer face.
A
Nova Era trazida pela entrada no Terceiro Milênio nos expõe, globalmente, a
desafios imensos e paradoxais. O desenvolvimento da espécie para equacionar
problemas e empreender soluções é magnífico e nos surpreende a cada dia,
especialmente nas parafernálias tecnológicas de larga utilização, da biomassa à
biotransmutação.
Não
somos mais os mesmos seres da Era Passada, aquela que se esgotou no fim do
último século, do segundo milênio. Somos outro bicho e em tudo.
Há
muita turbulência nisso e em todos os campos: da política à administração, nas
artes, nos comportamentos, nas ciências, no clima, nas crenças e valores.
Somos
outro bicho e em tudo.
A
esperança é que o corpo ainda reaja através de elementos ancestrais. A febre,
por exemplo, santo alarme de biosintomas.
Não
é possível que negligenciemos a oportunidade da febre trazida pelo corona, essa
ducha contundente de risco global, assim como todas as guerras em curso, a
incapacidade de reconhecer a exaustão da depredação da biodiversidade (ampla),
o fosso abissal de riquezas, a fragilidade das relações, o ódio imperante em
seus mais diversos matizes.
O
que mais temo é que a gente se trate de mais um vírus e não aprendamos nada com
o martírio que foi vivê-lo, como holocaustos, escravaturas, ditaduras, comunismos,
terrorismos.
Não
precisávamos mais de nenhum sinal que explicitasse quanto temos nos distanciado
uns dos outros, quanto temos reduzido o contato, o convívio, a aceitação.
-
“Qui frio”!!!
Até
breve.
O sinal da distância é mais doloroso quando o motivo nao é aquele estranho a nossa vontade, mas está em nós, nas nossas condutas ...adorei , "qui frio"
ResponderExcluirLeitura profunda, como sempre. Os pecados são todos meus. Eu que adorei você ter estado aqui.
ExcluirMestre....
ResponderExcluirUma provocação: viver as fantasias da imaginação ou a realidade das observações? É possível distinguir um momento do outro? Precisamos destas duas formas de viver?
Beijos do eterno aprendiz.
Julin, meu terno e querido sobrinho, viver no mundo da fantasia pode ser uma delícia até trombar na realidade. Viver no mundo real pode ser monótono até o despertar de um belo e instigante sonho.
Excluir"Tudo o que está no plano da realidade já foi sonho um dia".
Beijo.