segunda-feira, 30 de março de 2020
sábado, 28 de março de 2020
IMAGENS
Notícia me chega de Espanha. Policiais invadiram asilos e encontraram inúmeros cadáveres de idosos abandonados.
Estivesse vivo, Picasso reproduziria outra Guernica.
Um horror de uma guerra perdida.
sexta-feira, 27 de março de 2020
DESCAPITALMIA
A Pandemia já deu uma contribuição aos governos em escala global: os excluídos são realidade e não apenas figurações estatísticas.
E mais, estas pessoas (outra descoberta) serão o fiel da balança para determinar o clima em que se dará a transição do martírio da pandemia.
Dólares, Euros, Libras, Pesos e Medidas às toneladas de expressiva monta inundarão a “economia” para inibir montanhas de cadáveres produzidos não pela doença, mas pela fome ou disputas sociais derivadas do desespero.
Os estados nacionais e os grandes conglomerados do capitalismo em teste podem e devem se perguntar: por que não fizemos isto na conta de investimentos e agora vamos ter que amargar na conta de prejuízos?
Com uma diferença acachapante: as perdas não são de moedas, mas de vidas.
Humanas.
quarta-feira, 25 de março de 2020
BOTÃO
Estou
dando um tempo para que o tempo retempere outro tempo. Tempestivamente,
urgentemente. Assim mesmo, reiteradamente.
Mais
do que quarenta dias, para uma reflexão que forje outros quereres, outros
pensares, outros sentires.
Ontem
passei a manhã em reuniões via Skype com clientes. Estou em Santa Luzia, em
minha morada rural onde o tempo difere muito de BH, lugar em que vivo a maior
parte de minhas horas.
Próximo
da hora do almoço resolvi me vacinar contra a influenza. Cheguei ao Posto de
Saúde às 12:02h e a atendente me disse que a vacinação seria interrompida para
que a enfermeira fizesse o seu horário de almoço, iniciado às 12:00h. Que eu
voltasse às 13:30h.
Fui
a minha casa e almocei. Às 13:20h estava de volta ao PS. Na minha frente doze
pessoas aguardavam o pico. O tempo médio de aplicação foi calculado em 4
minutos. As 13:44h, tendo vacinado seis pessoas que estavam a minha frente na
fila, a enfermeira saiu da sala de atendimento e comunicou a mim e aos demais
que aguardavam na fila (6 a minha frente
e 15 pessoas atrás), que a vacina tinha acabado e que a gerente iria buscar
mais.
Durante
os cinquenta minutos que se seguiram até o retorno da profissional com
vidrinhos contendo a porção imunológica e miraculógica, houve um frisson geral
entre os velhinhos.
-
Este é o Brasil!
-
Um absurdo!
-
É assim que somos tratados!
Alguns
muito alterados com seus dedos em riste. Incitavam outros que chegavam ao PS
adensando a aglomeração. Na recepção um cartaz convidava para a temperança:
“Desacatar servidor público no exercício de suas funções é crime”.
Saí
de lá, vacinado também contra raiva, por volta das 15:00h correndo para casa.
Estava agendado para outra reunião exatamente neste horário.
Às
17 e pouco fui para o jardim de minha casa e me deparei com um botão que apontava
majestoso para cima. Coloquei meu olhar fixo sobre a maravilha e freneticamente
desejei que ele se tornasse rosa no tempo que eu suportasse acompanhar o
processo.
A
gente sabe que não é assim o tempo.
Hoje
pela manhã, por volta das seis horas, voltei ao botão. Ele ainda não se fez
flor, está lá gozando o seu tempo de preparo, ensaia o perfume e a beleza que
deixará para o tempo enquanto durar.
Até breve.
DIÁRIO
O
que faremos todos enquanto estivermos encapsulados em nossas residências
entrincheirados para não ocorrer contagio?
DR,
sim discutiremos nossas relações considerando, ainda que hipotético, o fim dos
tempos. Quem sabe ainda temos chances?
Consertaremos
aparelhos domésticos, cortinas, portas emperradas, maçanetas, armários
embutidos.
Aproveitaremos
para acertarmos com o Fisco.
Escutaremos
música, faremos sexo com preliminares mais longas. Afinal...
Assistiremos
séries inteiras, filmes de longa e curta duração.
Estaremos
em janelas, pela manhã, controlando o número de automóveis que transitem.
Faremos estatísticas diárias, por marca, cor, modelo e velocidade aproximada.
Lavaremos
as mãos, especialmente as costas delas, entre os dedos, debaixo das unhas, pulsos.
Passaremos Álcool Gel 70% (não pode ser nem 69 e nem 71) e levaremos o
cheirinho ao rosto. Tornará-nos mais imunes.
Beberemos
um pouco. Vinho, cerveja, caninha, scoth. Sucos de polpa. Comeremos lentilha.
Tomaremos
nossos remédios, espalharemos cebolas cortadas pelo ambiente e aumentaremos a
dose de arnica.
Alguns
de nós com alguma habilidade nos inspiraremos em Camus e Saramago e
escreveremos um ensaio: A peste da cegueira.
A
propósito: execraremos o principal mandatário do País e sua prole brancaleônica.
Ou não, transmitoaremos-lo. Que horror!
Postaremos
nas redes sociais: flores reluzentes, mantras, imagens sacras, entardeceres e
diremos que amamos como nunca a todos, todas e tudo.
Postergaremos
contas e contos, atrasando tudo para qual não ocorrer sanção.
Ficaremos
de barriga prá cima, como lagartixas exaustas de paredes ou como besouros
suicidas.
Ficaremos
calados e pensando como sairemos dessa.
Até breve.
sábado, 14 de março de 2020
DECISÃO
A
quem interessar possa:
Comunico
a todos que acessam este blog que acabo de tomar duas decisões, para mim, de
alto impacto e relevância.
Comunico-as
para que não fiquem dúvidas naqueles que estão arrolados aqui como cúmplices destas
decisões e nem para nenhum dos meus leitores.
A primeira
decisão, para a qual intimo à cumplicidade dos envolvidos, é a de que decidi
realizar meu sonho mais inconsequente acalentado ao longo de todos os meus
anos: publicar um livro.
POSTS
À PROVA, título da coisa (pelo amor de Deus, enxerguem os múltiplos sentidos),
será publicado no dia 08 de maio de 2022, quando este blog completará 11 anos
de sua primeira postagem e eu, em fevereiro, setenta anos de idade.
O
conteúdo, a princípio, será extraído dos 1145 post editados até aqui e outros
textos que deverão ser incluídos publicados ou não em canal contemplado na segunda
decisão.
Para
tanto, estou suspendendo o acesso ao público em geral, de todo o acervo
existente no blog, revestindo o livro de certo ineditismo.
Estão
intimidados, ou melhor COVIDados, para prefaciarem a obra os seguintes
privilegiados: Camila Pereira, Clarice Andrade, Lidia Tata, Lizete Araújo, Maria
Teresa Volpini, Rijane Mont’Alverne, Júlio Caldas, Júlio Miranda, Leandro
Pereira, Sérgio Frade e Wilson Baptista Júnior que deverão uma vez tendo lido este
covid retornarem a mim (por telefone ou pessoalmente) para demais
esclarecimentos e assunção do compromisso tácito de não me permitir a
desistência da façanha.
Caso
não me retornem até a data do fechamento do livro na gráfica, ou porque não
leram este post ou porque abdicam de contribuir no prefácio ou por causa de constrangimentos
de qualquer natureza, sigo sozinho ou convido a outros dizendo que era a eles
que de fato eu queria convidar.
Espero
contar também com textos de Vera, Vladimir, Valesca, Bernardo, Fabiana, Alessandra,
Cláudio que deverão engrossar nas tintas elevando ao máximo minhas
características mais extraordinárias. Mintam de conforça.
Jamais
publicarei sem escritos de Liz Lopes, Valentin Lopes, Antônio Agulhô e Helena
Lopes, essa última que à altura da edição já estará fazendo os seus primeiros
garranchozinhos. Dos meus netos não me adianta esperar nenhuma mentira.
A segunda
decisão é de que retornarei ao Facebook com a intenção de manter presente e
público o meu olhar sobre o que se passa e estender a base de meus incautos
leitores.
Devo
adotar uma compostura mais adequada do que das outras vezes que usei o canal,
em todos os sentidos, sem perder o meu dizer e o meu estilo.
Agradeço
eternamente aos quase 170 mil acessos ao blog, mesmo sabendo que 90% ou mais
deles foram por equívoco de um clic ou de sites de oportunidade.
Aguardem
08 de maio de 2022. Ou não.
Ainda
assim...
Até
lá.
NOTA:
Reverberações das decisões tomadas e aqui comunicadas devem ser feitas na Seção
Comentários que serão prontamente respondidas.
Caso
queiram ter acesso a quaisquer dos posts já publicados podem pedir usando
também a Seção de Comentários que terei o maior prazer em disponibilizá-lo.
Grato.
quinta-feira, 12 de março de 2020
EXAUSTÃO
O
futuro não é mais como costumava ser.
Ousava-se
perscrutar dez anos, nesse momento é imponderável o que poderá advir nos
próximos dez dias ou, quem sabe até, dez horas.
Claro
que estou falando no plano macro. O mundo está em pré-convulsão e não é pelas
guerras em curso, mas por outros vetores dramáticos: covid-19 e petróleo.
Um
ato terrorista hoje seria considerado como mais um assassinato ali naquela
esquina. Não emplacaria como a primeira manchete.
A
geopolítica expõe o mundo à potencialidade de um evento histórico de proporções
e implicações imponderáveis.
Nossa
crise não precisava desta para já ser merecedora de cuidados especiais. Ontem, em
reunião com senadores e deputados sobre os efeitos na economia, o Ministro disse
que dependendo do porte virulento poderemos amargar crescimento negativo do PIB
entre 2,0 a 5,0%.
Acho
que foi Nelson Rodrigues quem disse que o mineiro só é solidário no câncer. É
passada a horas de nós de Minas estendermos este princípio para os demais
estados. A crise em gestação é muito mais expressiva do que aquela, de dez
minutos atrás, exigia.
Não
se trata mais de empreendermos medidas de aplicação com efeitos em longo prazo
e de demorado processamento político. O Estado Brasileiro precisa mobilizar um
Comitê de Crise para enfrentar o que está iminente.
As
variáveis da equação mudaram drasticamente nos últimos dias. Não se trata mais
de fazer planos e propostas para o país crescer, mas agir agora para o país
sobreviver (literalmente).
Não
é uma marolinha como considerou em
2008 o mandatário de plantão e nem é uma crise inexpressiva como quer o atual.
Para
fazer face à marolinha o governo de então mandraquiou créditos
a-perder-de-vista e desoneração fiscal e a bomba explodiu na mão da pobre
mulher pobre, além, claro, do maior saque de recursos públicos como nunca na
história deste país.
O
governo (?) atual tem a grande e definitiva chance de mostrar a que veio. Se o alto escalão do governo estava dormindo
só quatro horas por noite é provável que diante do que está posto ele fique totalmente
sem dormir.
Há
competência técnica instalada e há habilidade política para solidarizar-se
neste câncer. O que talvez falte neste momento seja: um alfinete desinflador de egos.
Não
são muitos os atores necessários para a articulação de um pacto realista e
imprescindível para empreender ações terapêuticas provavelmente necessárias
para debelar ou mitigar os danos prováveis do covid-19 e suas devastadoras
consequências econômicas.
A
marolinha somada à roubalheira homérica devastou a economia brasileira e levou
às ruas 15 milhões de desempregados e outros milhões de desalentados. O
covid-19 poderá ceifar vidas humanas, sabem-se lá quantas.
Que
nossas lideranças construam uma mesa redonda sem arestas.
É
hora de trocar o “T” pelo “D” em SOLI_ÁRIO.
Até
breve.
sábado, 7 de março de 2020
CONTÁGIOS
Durante
o carnaval fui privilegiado pela convivência plena com os netos. Os quatro,
inclusive aqueles que vivem distante, lá em Lages/SC, que preferimos chamar de
longes.
Lelê,
a menorzinha dos quatro, contraiu um vírus. Gripou. Com febre e o corpinho ruim
ela perdeu muito de sua serelepidade, mas ainda assim manteve sei jeitinho Lelê
de ser.
Numa
das noites, na verdade madrugada, a febre subiu e a avó achou por bem de dar um
banho mais para frio. Jamais vou esquecer Lelê saindo do box do banheiro
enroladinha na toalha, com a toca na cabeça e com seu sorrisinho maroto:
-
“Qui frio”!!!!
Desde
sempre a adversidade compôs a realidade. E como em tudo, cada um de nós reuniu,
ao longo da vida, mecanismos próprios ou importados de outros para fazer face.
A
Nova Era trazida pela entrada no Terceiro Milênio nos expõe, globalmente, a
desafios imensos e paradoxais. O desenvolvimento da espécie para equacionar
problemas e empreender soluções é magnífico e nos surpreende a cada dia,
especialmente nas parafernálias tecnológicas de larga utilização, da biomassa à
biotransmutação.
Não
somos mais os mesmos seres da Era Passada, aquela que se esgotou no fim do
último século, do segundo milênio. Somos outro bicho e em tudo.
Há
muita turbulência nisso e em todos os campos: da política à administração, nas
artes, nos comportamentos, nas ciências, no clima, nas crenças e valores.
Somos
outro bicho e em tudo.
A
esperança é que o corpo ainda reaja através de elementos ancestrais. A febre,
por exemplo, santo alarme de biosintomas.
Não
é possível que negligenciemos a oportunidade da febre trazida pelo corona, essa
ducha contundente de risco global, assim como todas as guerras em curso, a
incapacidade de reconhecer a exaustão da depredação da biodiversidade (ampla),
o fosso abissal de riquezas, a fragilidade das relações, o ódio imperante em
seus mais diversos matizes.
O
que mais temo é que a gente se trate de mais um vírus e não aprendamos nada com
o martírio que foi vivê-lo, como holocaustos, escravaturas, ditaduras, comunismos,
terrorismos.
Não
precisávamos mais de nenhum sinal que explicitasse quanto temos nos distanciado
uns dos outros, quanto temos reduzido o contato, o convívio, a aceitação.
-
“Qui frio”!!!
Até
breve.
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