domingo, 9 de fevereiro de 2020

VERDE





Amanheci com a alma banhada pelas chuvas, por aquilo que as águas nos trazem de melhor: o verde e, com ele, todas as cores naturais.

Da sala de minha casa em Santa Luzia, cidade castigada por enchentes, observo a explosão da mata, como se ela invadisse minha vida adentro com seus galhos e ramos magnânimos.

Claro que falo de privilégio conquistado por mais de cinquenta anos de trabalho profícuo, o que atenua um pouco o desconforto por merecê-lo. Não me isento da barbárie distributiva, mas minha penitência não deve impedir que eu goze daquilo que edifiquei.

Quase mil e duzentos posts editados aqui e para quem leu a maioria deles sabe quão crítico e amargo fui a partir de um olhar para o que se passa.

Hoje não!

Meu coração não se alegra, mas se compraz. Quero agora, enquanto escrevo, que algo ilumine o viver. Coloquei meus olhos, em tempos de seca, sobre a mesma mata que agora me invade. Foi doído. E hoje, ela me diz exuberante: “haverá um novo tempo”.

Não é atoa, então, que colamos o verde à esperança.

Nas inúmeras conversas que tenho comigo, algumas acaloradas e quase de ruptura, e por força de ter me embriagado de Montaigne, saio delas perscrutando com avidez o porvir.

E agora, sinto-o pouco. O tempo que me resta esgota-se mais rápido. Na juventude eu o administrava como inesgotável, abundante, não perecível. Agora, cada segundo é verdadeiramente: nunca mais.

Estou iniciando um trabalho, junto a parceiros que admiro, no qual quero investir o melhor de meus conhecimentos amealhados no percurso profissional e legar algo que de fato signifique.

O advento da avalanche tecnológica arrastando uma Era e inaugurando um tempo absolutamente não sabido nos coloca catatônicos, provavelmente como nunca na medida em que democratiza informações de largo espectro.

"Como será o amanhã? Como vai ser o meu destino? Já desfolhei o mal-me-quer. E vai chegando o amanhecer. Leio a mensagem zodiacal e o realejo diz que eu serei feliz, sempre feliz."

Como será o amanhã?

Há que cria-lo. Dos fundamentos ao êxito, passa necessariamente pela coragem de cada um pela escolha (tarefa mais aguda do processo) de seu propósito.

Nietzsche me ajuda: “Quem tem um quê pelo que viver não se importa como”.

Parece coisa de autoajuda. Sim, é provável que mereça críticas desta natureza. De mim sei que será densa, quase uma alta ajuda.

Quero viver para realizá-lo.


Até breve.

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