quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

QUALIQUANTIDADES




No próximo dia 27 tudo me leva a crer que eu deverei completar 68 anos de vida. Nada mais incerto.

Estudos estimam que a expectativa de vida do brasileiro esteja, em média, em 72,7 anos. Usando parâmetros familiares, no meu caso considerando que minha mãe se foi aos 72, meu pai aos 94 e meu primeiro irmão aos 80, a minha perspectiva de vida contempla 82 anos.

Esta perspectiva impõe aos meus 6 irmãos que, em tese, estão na minha frente na rota do fim, não morram nos próximos 14 anos, pois isto reduzirá por extensão as minhas chances de continuar por aqui dentro desta marca.

Muito bem, nada mais incerto.

Ainda deverei ver Noninha, Tin e Totô na faculdade, se ainda as houver. Lelê, em 14 anos ela estará com 18... Caramba, ela também poderá estar na universidade, claro, se ainda as houver.

4 Copas do Mundo de Futebol, 4 olímpíadas,14 períodos de enchentes bárbaras no início de cada ano, 840.000 assassinatos no Brasil mantida a média atual de 60.000/ano, 14 carnavais, 14 natais, 14 Nossa Senhora da Conceição, 14 finados, 14 Paixão... 4 mandatos de Presidente da República, claro, se ainda os houver.

Na melhor das hipóteses mais 1900 posts e na pior das hipóteses a metade disso, já que deverei continuar sofrendo da necessidade fisiológica de escrever, mesmo que a cada dia com menos eleitores.

Drones e toda sorte de veículos aéreos e/ou terrestres autoguiados; residências sem fios elétricos, fogões, geladeiras e Tvs; corações impressos em 3D, assim como cérebros. Implantes de rostos, de genitálias (claro, se ainda as houver), de cor da pele, número de membros superiores e inferiores.

Miseráveis em profusão.

Drágeas em byes, bebidas em megabytes, e alucinógenos em terabytes. Cocaína, maconha, álcool, nicotina, êxtase, crack só para silvícolas, claro, se ainda os houver.

Arte, qual Arte?

Pois que muito bem, nada mais incerto.

Aos olhos do fim, com leveza, humor, pitadas de ironia pensar algo que ultrapasse ao comezinho, ao ter vivido para trabalhar e pagar as contas, para amar e ser amado, para ter filhos, netos e coisas.

Para não ser um subtroço do subtreco. Nem que seja para si mesmo.

Em 14 anos, 5.110 dias, 122.640 horas, 7.358.400 minutos, 441.504.000 segundos afinal encontrar algum significado por ter estado por aqui neste vale paradoxal de lágrimas e de exuberantes potencialidades.

Minhas limitações espirituais e minha razão pouca não me permitem ousar para além do estertor da bisnaga de carne que findará carniça. Não me ocupo com o depois.

Quero ainda viver uma paixão ensandecida, a ponto de me perder em ilusões. Claro, se ainda as houver.


Até breve.

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