Excelente Fernando Meirelles
no Roda Viva da segunda-feira, 03.
Em
que pese a insistência (compreensível) de alguns entrevistadores em questionar
a veracidade dos fatos narrados no DOIS PAPAS, Meirelles conseguiu
passar as razões pelas quais filmou mais uma bela peça para o acervo de sua
filmografia.
Gosto
de Meirelles. Podíamos ter mais intelectuais como ele. Humildade,
assertividade, maturidade intelectual e política e, para meu encanto, agnóstico
que é (como acho que sou), foi fundo na questão da espiritualidade.
Logo
no início do programa ele enuncia a estrutura dos temas que quis contemplar na
narrativa e chama a isso de “camadas”.
Um
dos temas, talvez central, quer tratar de tolerância. Meirelles supõe ser
necessário trazer esta reflexão tendo em vista a polaridade em todo o mundo e
até mesmo na casa de cada um de nós.
Ao
colocar os dois personagens, indivíduos de convicções antitéticas profundas,
ele nos convida a pensar sobre o diálogo que se faz imperioso tanto na micropolítica
(nosso dia-a-dia) como na macropolítica (no caso, dois indivíduos
representantes de uma instituição do porte da Igreja Católica).
Outra
abordagem é a questão da culpa e do erro. Para ele o erro é vetor natural para
a evolução, inclusive na natureza. Disse-se adepto ao erro e que vê em sua
criação inúmeros que o fazem crescer. Uma forma polida e inteligente de
responder àqueles que insistiam em apontar os equívocos do diretor no filme.
“Não é um documentário, é ficção.”
Há
ainda a distinção entre MUDANÇA e CONCESSÃO, belíssima abordagem trazida de
decisões impactantes como aquelas que os dois personagens querem sugerir.
Fui
fisgado por todas as camadas, mas me encantei quando ele perguntado se por ter
que embrenhar-se nas questões da religião ele não sentiu abaladas as suas
convicções.
“Pelo contrário, reforçou minha crença
de que sim, há uma entidade que nos vela, maior, não uma figura que nos
penalize, mas uma ordem de todas as coisas”.
Meirelles
contribui com conduta simplória, despojada, terna e firmeza intelectual para um
pouco de iluminismo nesta densa nevoa obscura que paira sobre nossas mentes e
corações.
Mudando
de assunto, mas com algum vínculo temático, assisti ontem no Arte1 a um
documentário produzido por TV francesa sobre Inhotim. Como todos sabem nenhuma
galeria e nenhum museu em todo o mundo consegue expor o que ali está e poderá
vir a receber pela magnitude do porte das obras.
Bernardo
Paz figura central do documentário (não é ficção), ex-marido da maravilhosa
Andrea Varejão e fundador do Instituto, é privilegiado com a última fala, daí
meu vínculo com o filme de Fernando Meirelles.
“Eu cometi inúmeros erros na minha vida,
podem me questionar por isto, podem falar mal de mim... Mas ninguém poderá
falar mal de Inhotim.”
Pois
é.
Até
breve.
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