Em
uma parede, em cima de algumas primeiras edições raras, de antigos mapas da
ilha vulcânica e um abajur de linho manchado, uma cronologia traça a evolução
da ‘Atlantis Books’, desde uma ideia regada a muito vinho, em 2002, até
tornar-se uma das livrarias mais fantásticas da Europa. Do terraço tem-se a
visão do Mar Egeu. Prateleiras de livros se movem revelando beliches onde os
trabalhadores podem dormir.
Com
o tempo, espalhou-se a notícia de que também escritores visitantes poderiam
passar as noites de verão escrevendo e tirar um cochilo ali, e o proprietário
começou a receber e-mails solicitando um beliche na colônia de escritores mais
impressionante do mundo, em uma ilha que Platão julgava ser a Atlântida
perdida.
Nos
últimos quinze anos, enquanto turistas a bordo de navios de cruzeiro invadiam a
aldeia de Oia, na ponta mais setentrional de Santorini, a ‘Atlantis Books’
tornou-se um oásis de autenticidade e de sanidade cultural. As páginas
amareladas e as prateleiras de madeira trazida pelas marés emanam um cheiro de
mofo. Os clientes andam em volta do cachorro da loja, Billie Holiday.
Folheiam
obras de ficção, poesia, ensaios e raridades. Uma primeira edição de The Great
Gatsby de F. Scott Fitzgerald, sem a sobrecapa de um dos livros raros mais
procuradas do mundo, está à venda por seis mil euros.
Atrás
da máquina registradora há uma primeira edição extremamente rara de A Christmas
Carol de Charles Dickens. Seu preço: quase dezoito mil euros. Os livros raros
vendem bem porque a ilha se tornou um destino famoso para pessoas com muito
dinheiro.
Atlantis
não é a mais antiga e nem a menor livraria da Europa. Ernest Hemingway não
escreveu ali.
Meu
coração de uns meses prá cá passou a bater por me levar à Teruel, reconhecida
pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, cidade localizada na região de
Aragão, Espanha, a província menos populosa do país (30.000 habitantes).
Já
estive em Santorini, mas não sabia da Atlantis Books.
Hoje,
ao ler matéria no Estadão de onde bebi como fonte para os primeiros parágrafos
deste post, meu coração vacilou.
Passo
a pensar em alugar um dos beliches, se houver algum disponível, para ficar por
ali e padecer do cheiro de mofo do ocaso de uma literatura. Junto com Billie
Holiday ocupar um espaço qualquer e, como ele, em um dia qualquer deixar a
ilha.
Até breve.
Gostaria de merecer um beliche na Atlantis, nem que fosse para um rápido cochilo acordado!
ResponderExcluirBora juntos? Billie Holiday nos receberá de patas abertas. Tenho certeza.
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