Marcos,
talvez por isto seu nome, abriu a sequência familiar. Foi o primeiro a chegar e o
primeiro a sair. Vlad, meu filho, quem me deu a notícia. Disse-me que Grácia, a
sexta, estava tentando falar comigo e não conseguia.
Ele
se foi como nossa mãe: de um colapso fulminante, privilégio reservado somente
aos melhores. Quando falei com Franciane, minha sobrinha, ela confirmou.
-
É tio, eu estava falando exatamente isto. Papai se foi como um passarinho e
como vovó. Só os bons se vão assim, né?
Tempão
que eu não falava com Marcos, mais de duas décadas ou mais. Ele viveu sempre na
dele, ensimesmado no seu mundo pequeno, recolhido como um bichinho acuado.
No
novembro passado ele fez oitenta anos, nisso diferiu de nossa mãe, no que diz
respeito à ida. Ela se foi com setenta e três do mesmo jeito que ele. Assim,
vapt!
Franciane
disse-me que ele estava conversando com Bárbara, a esposa, e do nada parou.
Tudo.
Continuará vivendo em mim. Marcos não ocupava um espaço, para mim
sempre foi um vazio, nunca o vi fazer mal algum a ninguém e nem opinar sobre
qualquer assunto.
Na
juventude ele tinha apelido de Risadinha. Na alegria e na tristeza. Levou a
vida, essa que ainda está comigo, assim: sorrindo. Só rindo.
Notícia
que tinha dele, mais recente, era de que ele criava galinhas e com elas conversava
efusivamente. Imagino os segredos que deveria ter com elas através do silêncio.
Franciane
levou o pai e a mãe para morarem com ela em Anápolis, Goiás, logo depois que
Chico, seu único irmão, faleceu. E isso já faz para mais de duas décadas ou
mais.
Grácia,
a sexta, me perguntou se eu iria para o descimento. Num primeiro momento achei
que deveria, depois desisti porque só iria para ficar dentro de determinados
conformes. O corpo se vai. Marcos está em mim enquanto eu viver. Quem morrerá
sou eu e, comigo, todos.
Inadvertidamente
fui eu quem deu a notícia para Lourdinha, a segunda, a que tem o coração
tamanho de um trem e só fala aos gritos, pela descendência espanhola, eu acho.
-
Ô seu danado, que não fala com ninguém, por que cê tá me ligando? Morro de
saudade docê, tá tudo bem?
-
Ainda não chegou para você a notícia?
-
Quê notícia?
-
Agora nós somos nove.
Marcos
e Bárbara são padrinhos de batismo de Pretinha, minha filha. Quando falei com
ela do acontecimento Pretinha me disse que se lembrava das bonequinhas de pano
com que a madrinha a presenteava na infância. Bárbara é uma eximia bordadeira e
costureira.
Em
fim.
Grácia
foi com o marido Josevan e Lourdinha para Anápolis ontem à noite. Depois disso
não soube de mais nada. E prefiro que continue assim.
Dando
uma de Risadinha.
Até
breve.
Quando fiquei sabendo do falecimento do tio Marcos procurei a Franciane. Por telefone não foi possível falar então acabei deixando uma mensagem para ela relatando como me recordava dele. Foram poucas lembranças pois a minha convivência com eles (Tia Bárbara inclusive) foi ainda muito criança. O interessante é que eu escrevi exatamente sobre a "calma", a "serenidade", o "recolhimento", o "silêncio" que ele deixou marcado em mim.
ResponderExcluirAssim ele vive eternamente em nossos pensamentos e recordações, sabiamente! Bela vida!!!