“Tanto
é o sangue
que
os rios desistem de seu ritmo,
e
o oceano delira
e
rejeita as espumas vermelhas”.
GUERRA, Cecília Meireles
Há
uma
guerra.
Não
somente essa, da despaciência de Francisco com a fiel, nas portas de abertura
do ano novo, vida nova.
Coreia
do Sul e do Norte, desde 1950, conflito que envolveu EUA e China. A tensão
arrefeceu no último ano, com negociações pelo fim dos testes nucleares no
Norte.
Índia
e Paquistão, desde 1948, a disputa pela Caxemira já levou a três guerras entre
os países e deixou mais de 45 mil mortos. A tensão na fronteira é constante.
Preocupa o fato de os dois países serem potências nucleares.
Síria,
desde 2011, guerra civil entre o ditador Bashar al-Assad —apoiado por Rússia e
Irã— e milícias, com suporte dos EUA, salpicadas de terroristas como o Estado
Islâmico, já fez mais de 5,6 milhões de refugiados.
Iêmen,
desde 2015, a tentativa de golpe dos guerrilheiros houthis escalou para uma
guerra civil que envolve a Arábia Saudita, ao lado do governo, contra o Irã,
que apoia os rebeldes. A população civil enfrenta uma epidemia de fome.
Sudão
do Sul, desde 2011. O Sudão reivindica uma área rica em petróleo e dá início a
um conflito marcado por crimes de guerra, como o sequestro de crianças para
treiná-las como soldados.
Iraque,
desde 2003, entre xiitas e sunitas, e a aparição do Estado Islâmico, impede a
paz no país até hoje.
Afeganistão,
desde 2001, após os ataques de 11 de setembro os EUA invadem o Afeganistão. Mesmo
com relativo sucesso, enfrenta forte resistência de guerrilhas islâmicas e
ainda não conseguiu estabilizar o país.
Líbia,
desde 2014, começou com protestos contra o ditador Gaddafi. Após sua execução,
em 2011, insurge uma guerra civil com disputa entre milícias e o novo governo.
Rússia
e Ucrânia, desde 2014, após a deposição do presidente pró-Rússia, Viktor
Yanukovych, Moscou invade e anexa a Crimeia. O surgimento de grupos
paramilitares nacionalistas na Ucrânia só piora a situação na fronteira no
Leste.
Turquia
e curdos, desde 1984, a Turquia enfrenta os rebeldes curdos que exigem a
independência do seu território. Os EUA apoiam o exército curdo no combate ao
Estado Islâmico, na fronteira com o Iraque, gerando mal-estar diplomático.
Israel
e Palestina, desde 1967 (Guerra dos Seis Dias), que opôs países árabes a
Israel, os palestinos reivindicam territórios e a criação de um Estado. O
direito sobre Jerusalém é ponto de grande conflito.
Somália,
desde 2002, o Al-Shabab surgiu na guerra civil da Somália, na década de 1990, e
tenta instalar um governo islâmico radical no país.
Nigéria,
desde 2011, praticando atentados contra a população civil e até o sequestro de
crianças, o Boko Haram tenta instaurar a lei islâmica no país e tem ganhado
territórios no nordeste da Nigéria.
Liguem
à TV agora e escolham a programação para atualizarem-se. Sugiro que não se
ocupem com as perdas que já se aproxima de cem milhões entre mortos e
refugiados. A expressão da iniquidade não se resume a estes milhões de vítimas,
mas ao terror universal que deriva dela.
O
Grito é uma das mais famosas pinturas da história da arte ocidental. Foi
pintada em 1893 pelo artista norueguês Edvard Munch. Em 1892, Munch registrou
em seu diário o que viria a ser o impulso para a produção de sua mais célebre
obra.
“Caminhava com dois amigos pelo passeio, o sol se punha,
o céu se tornou repentinamente vermelho, eu me detive; cansado, apoiei-me na
grade - sobre a cidade e o braço de mar azul-escuro via apenas sangue e línguas
de fogo - meus amigos continuaram a andar e eu permanecia preso no mesmo lugar,
tremendo de medo - e sentia que uma gritaria infinda penetrava toda a natureza”.
Não
bastassem todas as guerras presentes, há ainda a minha própria, essa que me corrói
a cada dia. Também por isto.
Até
breve.
Fonte:
Global Conflict Tracker, do Conselho de Relações Internacionais dos EUA.
Querido Agulhô, belíssima reflexão, ao mesmo tempo que nos entristece por nos acordar, não de um pesadelo, mas de uma realidade. O saudoso Pierre Weil externava a sua tristeza quando refletia sobre "o preço da paz e das fronteiras". Ainda criança, dizia que "a minha pátria é principalmente a terra". Pena que os maiores líderes mundiais não pensem assim. Triste. Poupo dessa o papa Francisco que deu uns tapas naquela mulher que puxava o seu braço: paciência tem limite; até Jesus perdia a sua e chegava a ser rude em algumas situações.
ResponderExcluirAbraço, meu amigo. Obrigado por nos convidar, sempre, para reflexões e nos inspirar a não ficarmos calados.
Eu que sempre devo agradecer por sua amizade. Brigado, Julinho.
ExcluirCaro Agulhô, obrigado pelo convite para ler sua crônica. Mesmo sendo dura a realidade de que os rumos não mudarão, a obra que a ilustra transmite o sentimento e fecha a crônica. A vontade que fica é a registrada por Munch; o grito.
ResponderExcluirEu que devo agradecer àqules que comigo compartilham da mesma amargura. Brigado, amigo.
ExcluirGrande Agulhô, o Osias me escreveu pedindo o seu contato, e descobri que não tenho, desde que você saiu do Facebook. Por favor me envie um modo de contatar você para o meu email maninhowilson@gmail.com
ResponderExcluirAgulho, saudade das conversas mais profundas que não cansavam, mas alimentavam minha alma. Só essas conversas para nos fazer acreditar em algo no meio de tudo isso. Beijo do amigo.
ResponderExcluirBora marcar um dia para nos aprofundarmos... Te ligo.
ExcluirParabéns pelo texto, Agulhô. Falta apenas a Guerra Nossa de Cada Dia, a que mata mais do que todas essas aí juntas, por dia! Feliz Ano-Mesmo!!!
ResponderExcluirAbordei só as guerras horríveis, as terríveis quem você refere são sim as mais insustentáveis. De qualquer forma, como Camus encreve ao General De Gaulle de que o dever de todo resistente era “lembrar as pessoas todos os dias, todas as horas se necessário, em todos os artigos, em todas as transmissões, todas as reuniões, todas as proclamações” o que se estava defendendo na reação aos nazistas. Beijo, amigo.
ResponderExcluir... as terríveis a que você se refere...
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