domingo, 5 de janeiro de 2020

HORRIGERÂNCIA




"O Grito", de Edvard Munch, pintado em 1895, é o quadro ...


“Tanto é o sangue
que os rios desistem de seu ritmo,
e o oceano delira
e rejeita as espumas vermelhas”.
GUERRA, Cecília Meireles


uma guerra.

Não somente essa, da despaciência de Francisco com a fiel, nas portas de abertura do ano novo, vida nova.

Coreia do Sul e do Norte, desde 1950, conflito que envolveu EUA e China. A tensão arrefeceu no último ano, com negociações pelo fim dos testes nucleares no Norte.

Índia e Paquistão, desde 1948, a disputa pela Caxemira já levou a três guerras entre os países e deixou mais de 45 mil mortos. A tensão na fronteira é constante. Preocupa o fato de os dois países serem potências nucleares.

Síria, desde 2011, guerra civil entre o ditador Bashar al-Assad —apoiado por Rússia e Irã— e milícias, com suporte dos EUA, salpicadas de terroristas como o Estado Islâmico, já fez mais de 5,6 milhões de refugiados.

Iêmen, desde 2015, a tentativa de golpe dos guerrilheiros houthis escalou para uma guerra civil que envolve a Arábia Saudita, ao lado do governo, contra o Irã, que apoia os rebeldes. A população civil enfrenta uma epidemia de fome.

Sudão do Sul, desde 2011. O Sudão reivindica uma área rica em petróleo e dá início a um conflito marcado por crimes de guerra, como o sequestro de crianças para treiná-las como soldados.

Iraque, desde 2003, entre xiitas e sunitas, e a aparição do Estado Islâmico, impede a paz no país até hoje.

Afeganistão, desde 2001, após os ataques de 11 de setembro os EUA invadem o Afeganistão. Mesmo com relativo sucesso, enfrenta forte resistência de guerrilhas islâmicas e ainda não conseguiu estabilizar o país.

Líbia, desde 2014, começou com protestos contra o ditador Gaddafi. Após sua execução, em 2011, insurge uma guerra civil com disputa entre milícias e o novo governo.

Rússia e Ucrânia, desde 2014, após a deposição do presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, Moscou invade e anexa a Crimeia. O surgimento de grupos paramilitares nacionalistas na Ucrânia só piora a situação na fronteira no Leste.

Turquia e curdos, desde 1984, a Turquia enfrenta os rebeldes curdos que exigem a independência do seu território. Os EUA apoiam o exército curdo no combate ao Estado Islâmico, na fronteira com o Iraque, gerando mal-estar diplomático.

Israel e Palestina, desde 1967 (Guerra dos Seis Dias), que opôs países árabes a Israel, os palestinos reivindicam territórios e a criação de um Estado. O direito sobre Jerusalém é ponto de grande conflito.

Somália, desde 2002, o Al-Shabab surgiu na guerra civil da Somália, na década de 1990, e tenta instalar um governo islâmico radical no país.

Nigéria, desde 2011, praticando atentados contra a população civil e até o sequestro de crianças, o Boko Haram tenta instaurar a lei islâmica no país e tem ganhado territórios no nordeste da Nigéria.

Liguem à TV agora e escolham a programação para atualizarem-se. Sugiro que não se ocupem com as perdas que já se aproxima de cem milhões entre mortos e refugiados. A expressão da iniquidade não se resume a estes milhões de vítimas, mas ao terror universal que deriva dela.

O Grito é uma das mais famosas pinturas da história da arte ocidental. Foi pintada em 1893 pelo artista norueguês Edvard Munch. Em 1892, Munch registrou em seu diário o que viria a ser o impulso para a produção de sua mais célebre obra.

“Caminhava com dois amigos pelo passeio, o sol se punha, o céu se tornou repentinamente vermelho, eu me detive; cansado, apoiei-me na grade - sobre a cidade e o braço de mar azul-escuro via apenas sangue e línguas de fogo - meus amigos continuaram a andar e eu permanecia preso no mesmo lugar, tremendo de medo - e sentia que uma gritaria infinda penetrava toda a natureza”.

Não bastassem todas as guerras presentes, há ainda a minha própria, essa que me corrói a cada dia. Também por isto.


Até breve.


Fonte: Global Conflict Tracker, do Conselho de Relações Internacionais dos EUA.


10 comentários:

  1. Querido Agulhô, belíssima reflexão, ao mesmo tempo que nos entristece por nos acordar, não de um pesadelo, mas de uma realidade. O saudoso Pierre Weil externava a sua tristeza quando refletia sobre "o preço da paz e das fronteiras". Ainda criança, dizia que "a minha pátria é principalmente a terra". Pena que os maiores líderes mundiais não pensem assim. Triste. Poupo dessa o papa Francisco que deu uns tapas naquela mulher que puxava o seu braço: paciência tem limite; até Jesus perdia a sua e chegava a ser rude em algumas situações.

    Abraço, meu amigo. Obrigado por nos convidar, sempre, para reflexões e nos inspirar a não ficarmos calados.

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    1. Eu que sempre devo agradecer por sua amizade. Brigado, Julinho.

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  2. Caro Agulhô, obrigado pelo convite para ler sua crônica. Mesmo sendo dura a realidade de que os rumos não mudarão, a obra que a ilustra transmite o sentimento e fecha a crônica. A vontade que fica é a registrada por Munch; o grito.

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    1. Eu que devo agradecer àqules que comigo compartilham da mesma amargura. Brigado, amigo.

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  3. Grande Agulhô, o Osias me escreveu pedindo o seu contato, e descobri que não tenho, desde que você saiu do Facebook. Por favor me envie um modo de contatar você para o meu email maninhowilson@gmail.com

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  4. Agulho, saudade das conversas mais profundas que não cansavam, mas alimentavam minha alma. Só essas conversas para nos fazer acreditar em algo no meio de tudo isso. Beijo do amigo.

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  5. Parabéns pelo texto, Agulhô. Falta apenas a Guerra Nossa de Cada Dia, a que mata mais do que todas essas aí juntas, por dia! Feliz Ano-Mesmo!!!

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  6. Abordei só as guerras horríveis, as terríveis quem você refere são sim as mais insustentáveis. De qualquer forma, como Camus encreve ao General De Gaulle de que o dever de todo resistente era “lembrar as pessoas todos os dias, todas as horas se necessário, em todos os artigos, em todas as transmissões, todas as reuniões, todas as proclamações” o que se estava defendendo na reação aos nazistas. Beijo, amigo.

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  7. ... as terríveis a que você se refere...

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