quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

DESHORIZONTE





Ah, sombrio horizonte!!!

Capital (ah palavra de significados!!!) das terras indevolutas de riquezas gerais!

Ah, cidade de meu berço natal e aonde depositarão, em uma campa, aquilo de sólido inerte que sobrar de mim!

Ah, estado das montanhas que nos ensimesmam em nossa mineiridade! Ah, meu canto, meu lugar, minha terra, meu céu, meu triste horizonte!

Ah, figura simbólica da tragédia humana, mais nítida da atualidade! Ah, musa histórica para meu canto de dor! Ah, evidências mais do que concretas que as imagens televisivas e escândalos decorrentes explicitam!

Séculos de barbárie exploratória solapando riquezas e as distribuindo das formas mais sórdidas e vis, que nem inconfidências sangrentas foram capazes de suspender. Enforcaram todos aqueles que denunciaram. E ainda o fazem dissimulada, maquiavélica e deliberadamente.

Curral del Rey está plantada sobre um equívoco. De todas as naturezas, inclusive com um profundo desrespeito à própria. Sufocaram seus córregos e rios, mas eles não faleceram através dos tempos. Ainda tramam nos subsolos de avenidas escuras aguardando que o céu precipite forças para que rompam e retornem aos seus leitos naturais.

Como o Córrego do Leitão, que, com o aumento da densidade populacional em sua bacia, havia se tornado extremamente poluído. Na década de setenta, decidiu-se, então, por canalizar e fechar o córrego e construir a Avenida Prudente de Morais, com o objetivo de melhorar o fluxo viário na região, cuja expansão se dava de forma acelerada e de aguçada volúpia capital.

Foi ele um dos que se rebelaram a partir do rompimento da Barragem Santa Lúcia que o continha. Voltou por cima, soberano, ávido por reencontrar suas margens e seu curso de origem e direito. E os homens assustados o reconheciam: “Parece um rio”...

Somadas a todas as águas trazidas por força de algo sabido e explicado por especialistas (a configuração montanhosa da cidade, o calor advindo de seus concretos e a falta de permeabilidade) desaguou adiante em Marília de Dirceu, a Praça.

Trágico o que construo revisitando Tomaz Antônio Gonzaga, um dos inconfidentes. No poema dele, Marília de Dirceu, ele faz culto à natureza (ao pastoralismo, a vida em harmonia com o ambiente e repúdio à vida citadina).

Um dos moradores em edifício da Praça: el Rey. Da janela de seu apartamento o prefeito, que gosta de dizer-se culpado, assistiu a pujança das águas. 

Não, senhor prefeito, não traga para si o privilégio da culpa, como mais uma demonstração da vaidade insana que grassa nos governantes.

A culpa continua em nós que, nos dias presentes, enforcamos Greta.



Até breve.

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