domingo, 19 de janeiro de 2020

BLUES




No post de ontem disse uma impropriedade. Não somos governados pela mentira. A mentira é inerente à política. Seria desnatural não fosse. É da natureza, da essência da Política, especialmente a que se nomeia democrática a visão partida, portanto, tendenciosa.

Todo partido parte de uma perspectiva partida, portanto fundado em interesses do grupo a que se (com) promete.  Adoro construções onomatopaicas.

A única corrente que cobre o universal (não partida) é fundada nos modelos totalitários, nazifascistas. Portanto, uma única perspectiva é inerente à ausência da política partidária. Só há Um que verdadeiramente governa.

O Estado sou eu!

A sociedade vive nessa sinuca de bico: entre a mentira (partida) e a verdade única (oniversal). Quanto mais vulnerável culturalmente um povo mais aguda é a sinuca.

Vejam, por exemplo, duas decisões do atual desgoverno. A dita maior de todas as iniciativas no campo da cultura contempla, em 2020, o investimento de R$20 milhões para o incentivo da produção artística em diferentes modalidades: de ópera a história em quadrinhos. Poesia não faz parte, o que me parece absolutamente compreensível.

Passa-se uma borracha e apaga-se com a demissão do Secretário Suástico, portanto ninguém sabe se o vultoso incentivo permanecerá. De minha parte vou adorar saber a comissão censora, ops, julgadora.

A outra decisão é de destinar para as eleições municipais do ano de 2020 o montante de R$2bilhões para o Fundo Partidário.

Atentem para o detalhe: o investimento na bandalha dos Pequenos Partidos Grandes Negócios corresponde a 100 vezes aquele que se destinará ou se destinaria aos infelizes marginais produtores de cultura.

Juro a vocês que se o blog não fosse de grátis eu não escreveria uma linha. O pior é que na medida em que vai passando o meu tempo fico mais amargo, sem graça, quase desgraçado.

Embora esteja gozando do privilégio de merecidas férias fecho a semana com uma profunda tristeza. Ontem fomos à Santo Antônio de Lisboa, Floripa, e nos deparamos com um artista de rua nos oferecendo um CD de sua autoria.

Pedi a ele que nos desse uma pala para que pudéssemos saber qual era a dele. Levou-nos para debaixo de uma árvore e nos brindou com um blues de sua autoria. Só não lacrimei porque minha alma tá seca.

Disse-nos que os comerciantes ao longo da orla chamam a polícia se ele incomodar os turistas.

Retomo amanha meu cotidiano perplexo: como um país de mais de duzentos milhões de pessoas se permite tal aviltamento.

Entre a mentira partidária da vil democracia e a perspectiva do Oniversal opto, e cada vez mais, pela minha alma anárquica.

Aos setenta serei inimputável.


Até breve.

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