Ah,
sombrio horizonte!!!
Capital
(ah palavra de significados!!!) das terras indevolutas de riquezas gerais!
Ah,
cidade de meu berço natal e aonde depositarão, em uma campa, aquilo de sólido
inerte que sobrar de mim!
Ah,
estado das montanhas que nos ensimesmam em nossa mineiridade! Ah, meu canto,
meu lugar, minha terra, meu céu, meu triste horizonte!
Ah,
figura simbólica da tragédia humana, mais nítida da atualidade! Ah, musa histórica
para meu canto de dor! Ah, evidências mais do que concretas que as imagens
televisivas e escândalos decorrentes explicitam!
Séculos
de barbárie exploratória solapando riquezas e as distribuindo das formas mais
sórdidas e vis, que nem inconfidências sangrentas foram capazes de suspender.
Enforcaram todos aqueles que denunciaram. E ainda o fazem dissimulada, maquiavélica
e deliberadamente.
Curral
del Rey está plantada sobre um equívoco. De todas as naturezas, inclusive com
um profundo desrespeito à própria. Sufocaram seus córregos e rios, mas eles não
faleceram através dos tempos. Ainda tramam nos subsolos de avenidas escuras aguardando
que o céu precipite forças para que rompam e retornem aos seus leitos naturais.
Como
o Córrego do Leitão, que, com o aumento da densidade populacional em sua bacia,
havia se tornado extremamente poluído. Na década de setenta, decidiu-se, então,
por canalizar e fechar o córrego e construir a Avenida Prudente de Morais, com
o objetivo de melhorar o fluxo viário na região, cuja expansão se dava de forma
acelerada e de aguçada volúpia capital.
Foi
ele um dos que se rebelaram a partir do rompimento da Barragem Santa Lúcia que
o continha. Voltou por cima, soberano, ávido por reencontrar suas margens e seu
curso de origem e direito. E os homens assustados o reconheciam: “Parece um rio”...
Somadas
a todas as águas trazidas por força de algo sabido e explicado por
especialistas (a configuração montanhosa da cidade, o calor advindo de seus concretos
e a falta de permeabilidade) desaguou adiante em Marília de Dirceu, a Praça.
Trágico
o que construo revisitando Tomaz Antônio Gonzaga, um dos inconfidentes. No
poema dele, Marília de Dirceu, ele faz culto à natureza (ao pastoralismo, a
vida em harmonia com o ambiente e repúdio à vida citadina).
Um
dos moradores em edifício da Praça: el Rey. Da janela de seu apartamento o
prefeito, que gosta de dizer-se culpado, assistiu a pujança das águas.
Não,
senhor prefeito, não traga para si o privilégio da culpa, como mais uma
demonstração da vaidade insana que grassa nos governantes.
A
culpa continua em nós que, nos dias presentes, enforcamos Greta.
Até
breve.