“Acho que a felicidade de um leitor está
além da de um escritor; pois o leitor não precisa experimentar aflição nem
ansiedade: sua procura é simplesmente a felicidade.”
Jorge
Luiz Borges (*)
Essencialmente
não concordo com Borges. Não saí apenas mais feliz depois de ter lido Esse
Ofício do Verso, livreto que reúne seis palestras proferidas por ele.
Fui
assaltado por mais aflição e ansiedade.
“Quando estou escrevendo algo, tento não
compreendê-lo. Não acho que a inteligência tenha muito a ver com o trabalho do
escritor. Acho que um dos pecados da literatura moderna é ser muito
autoconsciente.”
Não
é só no ato da escrita que não compreendo e a inteligência, muitas vezes mais
atrapalha do que ajuda à procura da consciência, imaginem da autoconsciência
e/ou da alta consciência.
Saber
me seduz e tudo que a ele me endereça.
A
mim todo saber é afrodisíaco e, portanto, inebriante. Dispiroco-me, com
frequência. Não tenho nenhum pudor ao afirmar isto, nem cuidados. No chulo,
explicita-se.
Tomado
pelo saber idealiza-se o real ou o que “esse real” poderia ou deveria ser,
mesmo sabendo que o saber – em – si não dá conta da ação, já que esta resulta
de um campo muito mais vasto de aquilo que se supõe saber.
Terminei
de ler o livro de Fernanda Montenegro e por ele também fiquei inebriado. De
novo Borges me assalta: “O que li é muito
mais importante que o que escrevi, pois a pessoa lê o que gosta – porém não
escreve o que gosta, mas o que é capaz de escrever.”.
Fudido
esse Borges.
Foi
Fernanda que prenhou-me de: “Ao mesmo
tempo que amo a consciência, eu idolatro o mistério inarredável de cada segundo
que eu vivo.”.
E
de saber ou não saber, ah a poesia! Esta que vive logo ali, em toda parte, à
espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante. E os livros, ainda o
melhor veículo ao saber, são somente ocasiões para a poesia.
A
arte acontece a cada vez que lemos um poema, portanto pode-se dizer que a
poesia é uma experiência nova a cada vez. Cada vez que leio um poema, a
experiência acaba ocorrendo. E isso também é poesia.
E
a poesia “não sabemos”. Assim como
não podemos definir o gosto do café, a cor vermelha ou amarela nem o
significado da raiva, do amor, do ódio, do pôr do sol.
Quando
a poesia chega, sente-se seu toque, aquela comichão própria da poesia.
Assim
não há, pelo menos para mim, nenhum néctar mais saboroso do que a busca de se
saber, mesmo que eu saia da aventura cada vez mais ressaqueado.
E
continuarei embriagando-me de poesia.
Ave
Poeta!
Até
breve.
(*)Borges, Jorge Luis Borges - 1899 - 1986 - Esse oficio do verso, São Paulo, Companhia das letras - 2019.
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