DOIS PAPAS, de Fernando Meirelles , em cartaz na Netflix, é um filme
edificante em um contexto de tamanha obscuridade e decadências de largo espectro
a que estamos expostos na atualidade.
A
biografia de Ratinzer e Bergoglio, Bento XVI e Francisco I respectivamente, trás
para o encerramento do ano, uma oportunidade de reflexão.
Bergoglio
é acessível, descontraído, informal, apaixonado por futebol e tango, capaz de
assobiar "Dancing Queen", do Abba, em plena eleição no Vaticano ou
pedir uma fatia de pizza em uma barraca qualquer.
Ratinzer
é catedrático, sisudo e autoritário, almejou o cargo que ocupa através da
política interna do Vaticano.
Dois
seres humanos que a trajetória pessoal transformou em gigantes históricos. Na
passagem do milênio um e outro abrem suas chagas mais íntimas e revelam, por
extensão, os males absurdos e contraditórios patrocinados pela instituição que
representam.
É
impossível ao Homem não viver o pecado, e não impregnar em tudo o que parte
dele. A vocação sacerdotal, por sua vez, toda ela, é cunhada como servidora
para aplacar a cada ser a sua original imperfeição inerente.
Bergoglio
protagoniza este lugar de clemência e não o faz em convicção absoluta. Ratinzer
coloca-se no lugar daquele que capitula: “Eu
não tenho mais condições de me sentar neste lugar”. Nada mais humano do que
o erro.
Roteiro
e direção dão conta de uma narrativa exuberante ao contextualizar a vida dos
dois homens marcados, um pelo nazismo e outro pela ditadura militar, com que
são inevitavelmente imolados e acusados de conluio e serviço.
Dá
conta também de quão é desafiante estar no lugar daquele que determinará os
rumos de uma instituição milenar cujo posto maior enverga o enunciado
contundente e absoluto: “Farei o homem a
minha imagem e semelhança”.
E
não ser Deus, sendo Homem.
O
filme é grandioso por isto. Convida-nos à nossa insignificância, testa nossas
convicções, expõe nossa mediocridade e passividade diante do quadro bárbaro da
atualidade, e nos faz humanos, erráticos deliberadamente por deficiências de
caráter ou por força de nossa pequenez.
Enquanto
assistia fazia mea culpa por meus
diminutos crimes hediondos e endereçava mentalmente em silêncio sepulcral a
todos aqueles a quem fiz mal, independentemente das circunstâncias todas elas
injustificáveis, o meu mais sincero pedido de clemência.
As
cenas alternadas em que Ratinzer “perdoa” Bergoglio e este, da mesma maneira, “perdoa”
Bergoglio me serviu como um bálsamo.
Há
que se ter esperança para que uma nova chance sobrevenha e que nos torne mais
humanos.
Até
breve.
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