domingo, 29 de dezembro de 2019

PERDÃO




Dois Papas: Filme de Fernando Meirelles estréia em ...



DOIS PAPAS, de Fernando Meirelles , em cartaz na Netflix, é um filme edificante em um contexto de tamanha obscuridade e decadências de largo espectro a que estamos expostos na atualidade.

A biografia de Ratinzer e Bergoglio, Bento XVI e Francisco I respectivamente, trás para o encerramento do ano, uma oportunidade de reflexão.

Bergoglio é acessível, descontraído, informal, apaixonado por futebol e tango, capaz de assobiar "Dancing Queen", do Abba, em plena eleição no Vaticano ou pedir uma fatia de pizza em uma barraca qualquer.

Ratinzer é catedrático, sisudo e autoritário, almejou o cargo que ocupa através da política interna do Vaticano.

Dois seres humanos que a trajetória pessoal transformou em gigantes históricos. Na passagem do milênio um e outro abrem suas chagas mais íntimas e revelam, por extensão, os males absurdos e contraditórios patrocinados pela instituição que representam.

É impossível ao Homem não viver o pecado, e não impregnar em tudo o que parte dele. A vocação sacerdotal, por sua vez, toda ela, é cunhada como servidora para aplacar a cada ser a sua original imperfeição inerente.

Bergoglio protagoniza este lugar de clemência e não o faz em convicção absoluta. Ratinzer coloca-se no lugar daquele que capitula: “Eu não tenho mais condições de me sentar neste lugar”. Nada mais humano do que o erro.

Roteiro e direção dão conta de uma narrativa exuberante ao contextualizar a vida dos dois homens marcados, um pelo nazismo e outro pela ditadura militar, com que são inevitavelmente imolados e acusados de conluio e serviço.

Dá conta também de quão é desafiante estar no lugar daquele que determinará os rumos de uma instituição milenar cujo posto maior enverga o enunciado contundente e absoluto: “Farei o homem a minha imagem e semelhança”.

E não ser Deus, sendo Homem.

O filme é grandioso por isto. Convida-nos à nossa insignificância, testa nossas convicções, expõe nossa mediocridade e passividade diante do quadro bárbaro da atualidade, e nos faz humanos, erráticos deliberadamente por deficiências de caráter ou por força de nossa pequenez.

Enquanto assistia fazia mea culpa por meus diminutos crimes hediondos e endereçava mentalmente em silêncio sepulcral a todos aqueles a quem fiz mal, independentemente das circunstâncias todas elas injustificáveis, o meu mais sincero pedido de clemência.

As cenas alternadas em que Ratinzer “perdoa” Bergoglio e este, da mesma maneira, “perdoa” Bergoglio me serviu como um bálsamo.

Há que se ter esperança para que uma nova chance sobrevenha e que nos torne mais humanos.


Até breve.




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