“Eu
também tenho algo a dizer, mas me foge
à
lembrança...
Paulinho da Viola
A
pressa é assim: vamos começar isso logo para terminar logo, encerrar logo esse
dia e dormir logo; acordar logo, tocar em frente logo, envelhecer logo, morrer
logo.
Fomos
nós, mortais, que inventamos o drama:
passado e futuro. Assim, tamponamos aquilo que também inventamos: o presente. Fico sempre pensando que o nomeamos assim
por alguma razão.
Angústia,
por um lado, na medida em que esta água
não voltará ao curso do mesmo rio. Não
passará novamente. Para trás está morto. Há, inclusive, uma patologia quem se
coloca sempre ali, no passado, necrofilia: gozar
com cadáveres.
Nostalgia,
também sob a perspectiva passada, dos verdes e coloridos anos, momentos,
conquistas, alegrias, mas que estão lá com suas intensidades adormecidas.
Ansiedade,
por outro lado, posto à frente do aqui e agora, pelo que está ou deveria por vir.
Dois mil e vinte possibilidades. Ai, meu Deus! O que advirá?
O
tempo essa falta de graça, quase des graça. Pois ele que nos diz: cê vai ter
fim!
Mas
e o presente, vale vive-lo, apesar das águas passadas que não movem mais
moinhos e o aberto ao finito por viver?
Enquanto
eu escrevia este post Tin e Totô, meus netinhos me chamaram para jogar bola;
Cláudio meu genro me disse que a fechadura do quarto estava engripada e não
queria abrir e Joselone (meu caseiro) colocou a mangueira de aspiração sem o
carrinho para a exaustão da sujeira decantada da piscina.
Parei
este post no segundo parágrafo, pedi ao Joselone para colocar o carrinho e
repetir a operação para a limpeza da piscina; peguei ferramentas para desenrijar
a fechadura da porta e, na passagem dei dois dribles em Totô e Tin.
Os
acasos que nos acometem e nos tiram do prazer e nos impõem outros fazeres. Eu
fico literalmente puto quando algo se coloca em meu caminho e me dirige para
outro consumo de tempo.
Agora
ouço o choro de Lelê, minha netinha caçula, vindo lá de baixo. Algo sucedeu.
Paro de escrever e grito: “qui foi Lelê?”
Aliás,
na ceia de Natal eu estava sentado à mesa e Lelê pediu para sentar em meu colo.
Eu havia acabado de me servir uma caçarola de capelete, quente no último. Ela
foi pegar um copo d’água e derramou, sobre eu e ela, a caçarola. Foi um banzé,
geral, mas felizmente sem maiores consequências.
No
dia seguinte, eu recebi via WhatsApp de Fabiana, minha nora e mãe de Lelê, uma
gravação de minha netinha: “Vovô tá tudo
bem, não precisa preocupar... Tô ótima! Meu dedo tá bom, meu braço tá bom... Te
amo...”
Que
o tempo nos presenteie com duas mil e vinte possibilidades, ainda que sobrevenham
acasos fora da rota do escolhido viver e que nos deixem literalmente putos.
Afetuoso
abraço em todos que gastam preciosos tempos me lendo.
Até
breve.
Ser chamado pelos netinhos para jogar bola... Dar dois dribles neles... Se preocupar com o choro da netinha... Vai me dizer que você ficou puto com esses "atrasos"? Pô, por mais que eu goste do que você escreve e saiba que gosta de escrever, a vida tem coisas melhores, como essas :)
ResponderExcluirMinha maior arte foi fazer filhos e olha que eu aproveitei. Com os netos agora, vivo permanente em êxtase.
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