“O amor é uma batalha entre dois
hipnotizadores num quarto fechado.”
J.P.
Sartre
Quarenta
e cinco anos se passaram desde que Bergman nos brindou com Cenas de um Casamento.
Agora é Noah Baumbach que nos oferece História de um Casamento.
Há
sim uma única alusão ao mestre feita por Noah em cena breve com um quadro
estampado na parede. E só.
Bergman
convida às profundezas da existência e seus impactos na relação a dois. Noah
nos explicita um tempo de conveniências, em que as relações são pautadas, aliás,
como tudo, por aquilo que é “socialmente aceito” mesclado por uma busca
desesperada do Homem e da Mulher, protagonistas da guerra dos sexos.
De
quebra, o filme lançado esta semana na Netflix, e por ser americano, escancara
a invasão do coletivo sobre a individualidade, colocando um preço muito alto
para aquele ou aqueles que se antepõem aos ditames do “modelo”.
Motivos
não faltam para separação, todo e qualquer casal sabe. Construir uma vida a
dois é um dos maiores desafios para homens e mulheres. E a modernidade (ou
será pós-modernidade?) agrava na medida em que discute persuadindo o
lugar da mulher e do homem na tessitura da construção a dois.
É
inevitável o embate dos propósitos e é igualmente inexorável a disputa entre um
e outro, de quem deverá capitular no desejo.
E é
da natureza de uma aliança a concessão de um dos contendores; não é de todo provável
que dois seres tenham projetado para si o mesmo caminho. Quem vence a rota?
Quem decide o rumo, os riscos, as circunstâncias, os ganhos e as perdas?
No
filme, como de resto em todos os embates, o homem é colocado no lugar daquele
que submete, daquele que não escuta, daquele que não se ocupa. A mulher no
lugar daquela que concede, que aceita embora não querendo, aquela que abdica
para que o homem siga, faça e ela acompanhe.
Em
cena impagável o ator (extraordinário, mas meu voto já foi para Joaquin Phoenix)
que encarna o marido vai ao extremo dizendo à esposa que ele a deseja morta,
desaba de joelhos e em pranto. Ela, em cena também sublime da maravilhosa
Scarlett, se aproxima e generosamente o acolhe.
Emblemática esta cena. Não há como não se identificar ali.
Antes
de o processo envolver advogados o casal passa por um esforço de mediação. Na
presença do mediador, marido e mulher devem ler o que haviam escrito sobre o
outro. A narrativa tem nesse texto o início e o fim do drama.
Ela
rejeita a ideia, diz que não estava de acordo com a leitura. O mediador insiste
e ela deixa a sala. Esse gesto, para mim, é último reduto de alguém para
preservar a sua privacidade. É como se ela dissesse: “Afinal esta história me pertence.”.
O
filme faz doer quando da intervenção da sociedade, ali representada pelos
advogados, de um e de outro, com suas referências mais do que malignas.
Desconsideram a verdadeira história do casal e levam para juízo uma perversa
lógica que sustenta a tese de quem deve ter “razão” na disputa.
A
cena em que marido e mulher estão colocados separados pelos advogados
explicita. Ambos são “coisificados” dentro dos trâmites da obra judicial. Um
horror.
O
alento nesse filme está na cena final.
Há
muito a dizer, e por costume e/ou infelizmente, cada post encerra aqui. Talvez
eu volte ao tema ainda. Até porque, será que o mesmo ocorre com casais homoafetivos?
Até
breve.
Agulhô, haja maturidade para assistir o filme sem sofrer e conseguir fazer uma análise distante das relações. Sua abordagem suavizou o gosto amargo que senti depois de horas na frente da TV. Vou digerir e assistir de novo...
ResponderExcluirAbraço
Serginho